Em 2009 uma professora de Inglês do Instituto Imaculada precisou se ausentar das salas de aula. Depois de alguma procura, contrataram a
Lidi – minha irmã fictícia – para assumir as turmas do Ensino Médio. As do Fundamental foram assumidas por outra professora substitua, exceto as duas oitavas.
Assim, havia ainda duas turmas descobertas e uma diretora levemente em desespero para encontrar alguém que as assumisse. Por indicação da minha fabulosa maninha, entraram em contato comigo. Dei aulas lá de abril a julho, quando assumiu uma professora designada pelo estado.
O Instituto Imaculada foi o mesmo em que eu estudei do jardim ao terceiro ano do Ensino Médio. Fui recebido pela direção e supervisão – professores da minha época – com um entusiasmo sincero, afinal – mesmo com algumas controvérsias – eu fora um aluno bonzinho.
Até aqui tudo certo. É nesse ponto que a coisa começa a ficar a cara de nossa querida cidade, a Cratera. Vou acrescentar uma frasezinha que talvez possa esclarecer o ponto que quero atingir: minha tia (e madrinha) é a Secretária Municipal de Educação.
Não demorou nada para que chegassem a mim comentários do tipo: “ele só está dando aula no Imaculada porque a tia arrumou boca pra ele”. Como uma Secretária Municipal poderia interferir numa Escola Estadual, eu não sei, mas a imaginação medonha dessa cidade sabe.
Não foram poucos os comentários nesse sentido, o que me decepciona de pronto. Eu já disse, quando forem citar minha cidade, futuramente, sempre digam que vivi em Tangamandápio, não em Cratera, vulgo Tapera.
Essa gente daqui me cansa, imensamente. Para eles não existem palavras básicas como esforço, merecimento, empenho, talento, estudo... Na visão de cabresto dos burros aqui atolados apenas existe oportunismo, indicação, favorecimento...
Por que tudo isso agora? Porque saiu hoje o resultado do concurso, esse sim municipal, no qual fiquei em primeiro lugar e devo assumir como professor ainda esse ano.
Não preciso de nenhum talento extraordinário para saber que dessa vez a coisa vai ficar ainda mais pesada. Agora a fofoca vai ganhar asas imensas e voejar à solta nas bocas podres e de línguas ávidas.
Isso me decepciona. Muito. Talvez eu pudesse dizer que durante todo o processo eu tive medo que o contrário acontecesse, que houvesse algum tipo absurdo de manipulação a fim de não me garantir a vaga. Mas não preciso, e nem quero, falar sobre isso.
Eu fiz a prova como todos os outros fizeram, ninguém me soprou as respostas ou facilitou o conteúdo. Eu apresentei meus parcos títulos como todos os outros concorrentes. E, ainda assim, vou ser taxado como aquele que só conseguiu porque a tia é Secretária de Educação.
Desculpem, mas não utilizem suas réguas para tirar minhas medidas. Não vou começar a falar das pessoas absurdas que ocupam cargos aqui por favorecimento, caso existam. Atacar não é meu objetivo.
Nem me defender é o objetivo. O que eu for escrever aqui não importa. Não importaria nem mesmo se eu mandasse publicar na primeira página do jornal local. Cérebros petrificados em mentes fechadas não entendem nem as coisas simples, quanto mais as complexas.
Minha sorte é ser bem conhecido por alguns. Quem me conhece, quem sabe um pouco de mim, do que eu penso, do que eu faço, do que eu sei, tem a certeza de que a minha classificação só pode ser chamada de competência.
Quando aos demais – a massificante maioria - que eles continuem com os cabrestinhos de burro. Que continuem com as cabecinhas de alfinete. Que continuem com as lingüinhas nervosas. Que continuem com essa inveja esbugalhada. Que continuem com os cochichos e mexericos. Porque o verbo de ordem deles é esse: continuar.
O meu, desculpem, mas é evoluir.
Independente do que falem, eu sei o porquê de eu ter sido classificado. E pretendo honrar meus motivos.
Obrigado realmente, a quem me fez conseguir essa vaga. E não, não foi minha titia. Quem fez isso foram os professores excelentes que tive, os colegas que me fizeram crescer, os amigos que me fizeram persistir, meus pais que puderam me apoiar, e principalmente minha namorada, sem a qual eu nem estaria aqui. Amo, de coração, a força e o exemplo que extraí de cada um de vocês.
O resto é resto.
E todo resto é lixo.
Obrigado pela atenção.