terça-feira, 8 de maio de 2018

Estrelas de artifício

Volto para casa, sozinho outra vez, e as luzes nas antenas são estrelas de artifício que me fazem lembrar você. Elas não entendem porque são tão sozinhas, essas luzes, pontos fixos e distantes uns dos outros. Enquanto isso, elas olhas, na imensidão acima, todas as outras estrelas, as de verdade, quase se tocam. Elas não sabem, as estrelas de artifício, coitadas, que lá em cima a solidão ainda é maior. Que o que parece próximo, pontas quase se tocando, pode estar a anos luz de distância. Elas não sabem, e você não sabe também, mas a minha solidão é maior do que a sua. Porque em você existe, meu bem, a possibilidade.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Gueixa


Não aguento mais cumprimentos vazios. Com sorrisos então? Não! Não quero ser uma gueixa leve que sorri e reverencia a cada um que passa e ergue dois dedos do volante. Eu quero mais.

Eu quero um toque que não seja de recolher. Eu não quero ser inalcançável. Mas como se desce do pedestal? Contornando a chuva e o vento. Como se pega o mundo e morde? Sorrindo. Mas meu sorriso é só mostrar de dentes. Como um cão que ladra, ladra, ladra. Não mordo nunca? Morder a quem. Morder a quem não é muda pergunta. É minha resposta.

Pelo menos uma vez por dia eu ouço tocar uma mesma música. É a sua? Eu não posso dizer. Pelo menos uma vez por semana eu chamo pelo Superman. Pode ser você? Não posso dizer. Isso é o que me tece por dentro. Isso é o que me embrutece e me faz acenar, como gueixa, com um sorriso falso para cada um que passa.

Nem grito, nem choro. Nem terno, nem nu. Meio morto, meio termo. Vou acenar se você passar.