sábado, 22 de outubro de 2011

Silenciosa inveja

Desde o primeiro momento eu lhe invejei aquelas palavras. As palavras. Elas pra mim eram só som cuspido no ar. Ou, se desse sorte, tinta preta na página em branco. Pra ele não. Pra ele as palavras, essas putas, dançavam no ar. Ele podia pegá-las, domá-las, masturbar-se com as palavras aquelas. Putas, elas preferiam a ele.

Compensação. Quando lhe tiraram uma coisa, deram-lhe outra. Mas eu é que não adimitia. Minhas palavras eram tão pobres perto das dele. Eu queria aquelas pra mim, não essas. Eu queria domá-las e fazer-lhes qualquer coisa menos do que comê-las.

Elas ali, dançando no ar, pousando e partido feito pombas ou bailarinas brancas. As palavras se materializando naqueles dedos compridos de pianista, as palavras que ele comia com aquela boca bem grossa. Palavras que ele enfiava pelo nariz comprido. Overdose de palavras, meu Deus!

E eu ali, expulsando uma bile silenciosa entre as cadeiras do espetáculo, já alheio ao que me diziam, às palavras pobres que me mandavam. Eu queria aquelas, eu cobiçava eram as palavras do menino mudo.

Um comentário:

  1. Intriga-me apenas as palavras não ditas.

    Os mistérios da vida são o que jamais vamos escutar.

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