terça-feira, 28 de junho de 2011

O Bibliófilo

De todas as infinitas taras, a pior chama-se Bibliofilia.

Enquanto os outros distúrbios são capazes de destruir uma vida, este tem seu perigo no exato oposto: sobre ele, é possível que se construa uma vida inteira.

A sedução comigo se deu aos poucos, passando pela obrigação até chegar ao mais fino deleite. Aos quinze anos eu já me sabia irremediavelmente bibliófilo. E desde então, tudo tem sido um consequência disso.

A escolha de uma carreira. O dinheiro ganho. O dinheiro gasto. A ocupação dos minutos de folga. Os estudos aplicados. A queima lenta das retinas. A sanidade ameaçada. O sono trocado. A compulsão perigosa. A tinta vermelha. A máquina velha. O laptop. Este blog. Tudo. Tudo. Tudo. Tudo por essa diabólica – e magnífica – obsessão.

Bibliofilia.

Em nome do toque, da textura, do cheiro, da cor, da imagem, da capa, da lombada, das vírgulas, das viagens, das pulsações, da vida e da morte!

BIBLIOFILIA!
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vertigem.

No meu quarto eles se abarrotam. Despejam-se de todos os lados. São mais de 500. E se reproduzem a cada novo impulso meu. O mais novo de 2011, ainda bebê. O mais velho de 1903, uma relíquia alemã.

Por todos os lados eles dominam. Sou estrela baça nessa constelação de meu bibliófilo amor.

Bibliofilia é ter cólicas ao pensar que não vou tocar em todos os que existem. Que um dia, entre as folhas diversas, terei um ponto final. Não quero, por Deus, morrer antes de ver todos, conhecer todos, saber todos, ler todos.

Bibliofilia é guardar alguns, preservá-los para depois. Sim, alguns de uma certa Sra. C.L. eu só quero ter o prazer de devorar daqui alguns anos. Se eu os possuísse todos, ainda hoje, seria impensável a vida sem que eles me fossem inéditos. Que sentido eu teria se não me faltassem aqueles para ler?

Bibliofilia é não conseguir ficar um dia sem eles. É sentir-se culpado se hoje não sobrou tempo. Bibliofilia é a angústia de um momento sem páginas. Inferno é um dia sem letras.

Bibliofilia é...

Ah, explicar não adianta. Poucos entendem. Só os iguais, só os iniciados, só os sagrados do templo.

Só os amantes, aqueles que também ouvem os sussurros no virar das páginas.

3 comentários:

  1. Não por nada. Mas esse texto é consequência do que anda acontecendo. Realmente desde os 15 anos eu baseio minhas escolhas e conduzo a minha vida guiado por essa tal de bibliofilia. Foi por ela que me tornei professor. É por ela meu mestrado em Literatura. É nisso que ocupo minhas horas e minha mente.

    Literatura é minha religião.
    Literatura é minha filosofia.

    E o que anda acontecendo? Comentários - vindos de colegas professoras (e a ética?) - de que eu teria dito na 8ª série (para qual dou Português) que não é necessário ler um livro inteiro, o resumo é mais do que suficiente...

    E daí, o que você faz nessa hora???

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  2. Detalhe, o que eu disse... e não pra turma inteira, apenas para uma das alunas, é que na hora de escolher qual livro ler, ela pode se basear no resumo. Se achar a história interessante e atraente, aí deve retirar aquele livro, caso contrário, procurar outro.

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  3. Eu normalmente procuro por uma página do livro na internet. Se a primeira for boa, sempre compro o livro. Mas anjo... não tem sensação melhor de virar a página de um livro novo e ouvir o barulhinho... o sussuro da página dizendo :" olha, você é a primeira que me abre". É quase pornográfico - (husuhahua)
    Mas enfim...

    Vicie na musica da Adele - rolling in the deep - que você indicou no Twitter um tempão atras.

    Beijos

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