quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

The loser takes it all



I don't want to talk
About the things we've gone through
Though it's hurting me
Now it's history
I've played all my cards
And that's what you've done too
Nothing more to say
No more ace to play


Ontem à noite, antes de dormir, eu revisitei minha vida. Ano a ano. Momento a momento. Foram 32 cenas. 32 dos momentos em que já me senti mais sozinho na vida. Eu bebê, sendo abandonado pela minha mãe - desculpe, não há outro verbo que eu consiga engolir aqui -, eu sendo castigado pela Ághata, eu sendo desprezado pela primeira menina que eu amei, eu voltando do acampamento com um conhecido, eu no momento em que soube da morte do meu pai. Muitos eus, enfim. Eu visitei e abracei um por um. E foi reconfortante. Reconfortante porque, hoje de manhã, enquanto eu estava aqui no IF e preparava um chá preto para mim (estou fazendo escolhas melhores agora, ou quase), eu pensei na solidão disso tudo, na minha vida do jeito que está, na instabilidade que eu sinto se aproximar por todos os lados. E pronto. Eu me senti visitado, me senti abraçado, valorizado, de algum jeito, eu me senti visto. Visto por um eu futuro. Um eu que vai poder se lembrar disso um dia e voltar aqui, pelo menos em lembrança, e me abraçar forte por um segundo ou dois.


The winner takes it all
The loser standing small
Beside the victory
That's her destiny

E então me veio toda a vontade dessa música. Pelo ritmo, mais do que pela letra. Pelo ritmo e pela voz da Carla Bruni, que sempre me fez viajar. Eu reconheço minhas paixões pelas minhas trilhas sonoras e quem as guia agora é "Nine millions bicycles" e tudo que vem com ela. Apaixonado é uma palavra forte ainda, confusa ainda. Mas acho que é a palavra certa. Porque a paixão é intensa. Porque a paixão é insana. Porque a paixão nos faz confundir bem e mal, nos faz odiar tanto quanto amar. Acho que é isso, então. Acho que estou apaixonado por mim. De um jeito instável. De um jeito melancólico. De um jeito autopiedoso até. Mas isso é melhor do que o desprezo de todo. Coloquei o fone, dediquei a música a mim, enquanto a água se tingia com o chá.

I was in your arms
Thinking I belonged there
I figured it made sense
Building me a fence
Building me a home
Thinking I'd be strong there
But I was a fool
Playing by the rules


Uma cerca, uma casa, meus muros, minhas regras. O que esse eu futuro vai pensar do meu eu passado? Desse de agora, daquele que, adolescente, começou isso de blogs? Ele vai saber que ainda somos o mesmo? Que ainda temos os mesmos dramas? Que a gente ainda luta contra as grades, mas ai de quem tentar tirá-las de nós? Eu jogo pelas mesmas regras desde sempre. As minhas regras, que agora já não me machucam mais. Agora que eu já entendi que comigo é assim. Que eu nunca vou ter a vida das pessoas nos filmes. Nunca as histórias dos livros. Porque, na ficção, sempre há redenção. E eu no fundo nem a quero. Só fui convencido, em algum momento, de que a queria. Está tudo bem em se abraçar sozinho, se é assim que você se sente menos tenso, confortável.



The gods may throw a dice

Their minds as cold as ice

And someone way down here

Loses someone dear

The winner takes it all
The loser has to fall
It's simple and it's plain
Why should I complain


Sempre que escutei essa música, me identifiquei com o loser.  Não é engraçado como somos preparados para isso? Para perdermos e acharmos bom? Nos desenhos, nas fábulas, nos filmes. É sempre do coitadinho que aprendemos a gostar. Desde a tartaruga e a lebre. Ah, mas ela é a vencedora! Sim, mas só para nos fazer gostar mais de quem tem tudo para perder. Eu ouvia essa música hoje e me lembrava dos desenhos, do Papa-léguas, do Tom & Jerry e todos os outros dessa mesma linha. O papel de vítima e predador invertidos. O Coiote, o Tom, sempre como losers. E era sempre com eles que nos identificávamos. Não, não queríamos que eles comessem suas presas. Mas cada frustração aceita, teimosamente aceita, era uma lição nossa, uma lição de continuar mesmo caindo de todo penhasco possível. Mesmo não conseguindo jamais. Jamais. Porque havia em nós a certeza de que eles não venceriam. (Como nós.(?))



But tell me does she kiss

Like I used to kiss you?

Does it feel the same

When she calls your name?

Somewhere deep inside
You must know I miss you
But what can I say
Rules must be obeyed

Hoje eu não quis me identificar com o perdedor. Hoje eu quis ganhar tudo, levar tudo, pegar tudo que há daquilo que já perdi. Hoje eu não quero falar do que foi, não quero voltar e arrancar cascas de feridas que já viraram cicatrizes. Não há mais o que fazer nesse sentido. Então vou pegar tudo, carregar tudo que aprendi e ser vencedor, nem que seja sobre mim mesmo.



The judges will decide


The likes of me abide

Spectators of the show

Always staying low

The game is on again

A lover or a friend
A big thing or a small


The winner takes it all


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário.