segunda-feira, 5 de maio de 2008

Dúbia

Foi nesta brumosa manhã que Clarissa decidiu, por fim, a vida.
Foi nesta brumosa manhã que Clarissa decidiu pôr fim à vida.
Subiu os dez andares pelo elevador e atirou-se aos braços dele.
Subiu os dez andares pelo elevador e atirou-se aos braços Dele.

Lygia, sentada comigo ao ônibus, assim me disse: “Somos retratistas de uma época”. Discordo, irmã. Somos antes criadores desta época. Somos nós, os escritores que semeamos a vida e a temos em nossas mãos. Vejam logo acima os dois inícios de Clarissa, eu disse e ela existiu, é o verbo se fazendo carne. Apresentei também dois finais. Talvez algum leitor apressado nem tenha percebido as sutis diferenças. Sutis para nós, que o diga Clarissa.
Seriam os deuses escritores? Sim, nossas mães Moiras não teciam, escreviam. Foi algum erro na tradução dos originais. Sabes de onde vem a palavra “texto”? Pois então. A primeira entregava o papel, a segunda escrevia e a terceira os rasgava.
Criamos pessoas, escolhemos destino, semeamos atos, pesamos conseqüências, amarramos desenlaces.
Que assim o seja.
E lhes proponho, escolham um início e um fim, destes que ali propus, que lhes dou a história de Clarissa... Afinal, precisamos de motivos para cada um dos dois atos.

2 comentários:

  1. A omissão da vírgula na primeira frase em itálico muda completamente o sentido original da frase. Isso me relembra as aulas de redação que tive nos tempos de escola.

    Só não entendi a quem "Dele", na frase em itálico se refere.

    Pessoalmente prefiro a primeira versão, é mais romântica e menos de acorda com a realidade atual. afinal, já tivemos gente demais saltando, ou melhor, sendo jogada de lugares altos este ano.

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  2. Eu prefiro o final clássico:

    "E foram felizes para sempre."

    Serve pras duas.

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