segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A Cigarra e a Formiga

“Menino sonha com coisas que a gente cresce e não vê jamais”

Voltamos.
Cabeças baixas, mas sem o cuidado de não pisar nos fios da calçada.
Voltamos.
E voltamos sem caminhar por cima dos muros, sem pular nos gizes da amarelinha, sem juntar a revistinha no chão.
Viemos esfregando o sono nos olhos, carregando nos ombros o peso da noite e sem reparar nas placas dos carros.
66 sorte!
Cruzamos primeiro o portal, depois a porta e mais duas até chegar à mesa.
Chegamos.
Chegamos adultos e enfáticos, viemos mudos e sorumbáticos, mas voltamos.
Voltamos apesar de saber que aqui somos mais infelizes.
Viemos, mas ainda olhamos cuidadosos para a porta que sai.
Chegamos, até na mesa, onde na terceira gaveta nascem todas as amarguras.
Ah, as amarguras, descascam dos ovos ainda brancas e verminhas, entre os papéis e os lixos. Amargurinhas rastejantes que se esvaem pelo buraco que deixou a fechadura e sobem nadando em rios de pó no ar.
Elas vêm, todas elas, penetram na pele e nos arrancam primeiro o sorriso, depois a vida. Lentamente, bem lentamente.
Foi para cá que voltamos?
Foi para isso que viemos?
Foi assim que chegamos?
É... Acho que foi.






PS: Reforma Ortográfica é o cacete!

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