sábado, 17 de outubro de 2009

Augusto,

Antes que venham te lamber as línguas ferinas desta cidade porca, falo eu: há outro que agora dorme na minha cama. Há outro que se enrosca em minha vida e a causa disso ainda és tu.

Há muitos que arranjam outros, sabes bem. Mas se eu fosse usar a justificativa que aos outros cabe, soaria ridículo. Não foi para te esquecer, foi antes para te lembrar.

Porque olhando para ele, pêlos crespos, negros, espessos e macios, lembro irreversivelmente de ti. Ainda que os olhos sejam de outra cor, a voz miada seja também de outro tom, o corpo ainda sem atingir a graça do teu, o nome distante, o cheiro distinto...

Não. Ele não veio ocupar teu lugar, meu caro Augusto, porque ninguém jamais o fará. Meu coração ainda pulsa pelas tuas vozes de manha, minha janela ainda se abre a espera da tua volta, meus olhos ainda me enganam quando vejo alguém que contigo parece.

Ele veio, Augusto, para lembrar-me de ti. Para que em cada passo eu purgue ainda mais minha dor de abandonado. Para que em cada nuance destes olhos azuis que ele tem, eu possa chorar pelos teus, que são cor de mel. Ele veio para que eu não esqueça de te amar a cada abençoada manhã.

Ele veio para representar tua falta. Ele veio porque tu me abandonaste sem adeus. Ele veio. Mas eu ainda te prefiro, Augusto. E se eu te prefiro tanto, se eu te amo tanto, Augusto, me diga: por que você foi morrer?

Ele só veio, Augusto, para que eu não morra também.

PS: A propósito, caso desejes saber, ele se chamará Victor. Também terá outro nome, como tu tinhas. O teu era Salém, o dele será Avalon.



3 comentários:

  1. Adivinha se a polenta não chorou???
    Lindo o Avalon, tomara q fique querido como o Salém era.
    Bjoooo!

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  3. Adoreiiiiiiiii!!! Muito melhor do que Machado de Assis....brincadeirinha....mas está se igualando amigo querido!!!

    ResponderExcluir

Obrigado pelo seu comentário.