O caderno rosa de poesias sempre foi cópia exata da menina triste. Não só o tema dos versos era íntimo diário, como a forma da letra e o estado do papel. Há letras cuidadas nos mínimos carinhos, traços delicados, redondos, levíssimos pontinhos, florezinhas nos quatro cantos do papel, borboletas de caneta e arabescos quase invisíveis de tão finos. E há, também, em outras partes, garranchos tortos de grossa caneta preta, riscos vermelhos, ranhuras, rasuras, rachaduras vermelhas no papel amassado de tanta raiva escrita. Há borrões de choro em rimas a lápis, corretivo pingado em frases fortes, páginas rasgadas por amargura pura.
E há branquidão mortal no caderno de poesias da menina triste. Achei-o ontem, por sobre as coisas de contar histórias. Estranho, intenso, depois insosso, vazio, vazio, vazio. Fui perguntar-lhe: Mas menina triste, por que essas folhas recentes tão vazias? Sabe o que é, disse-me ela, quando as folhas estão vazias demais, é porque eu também estou.
Ela falou. E eu, estranhamente, compreendi.