segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Ballerina derramada

Outro dia você não veio. E gastei por nada a fita das sapatilhas azuis. Gastei à toa o pulo ensaiado no ar. A maquiagem bonita, até o batom, tudo em vão.

O perfume que estava na última gota. O cabelo arrumado assim, amarrado só pra você ver. E nada. Em nenhuma cadeira você esteve. Meus rodopios, meus floreios e bordados. A espera toda e o brilho do olho, tudo perdido no ar. A luz bem acesa do palco e do sorriso. Foi só pra você, meu amor. Desperdício.

Os versos bonitos que ensaie pra cantar. O violão que aprendi a dedilhar. Cada compasso da dança era teu. E nada. A rosa que colhi bem madura e coloquei entre os seios, perfumada, exuberante e rubra a rosa. Até amanhã está morta. Amanhã você vem?

O gliter derramado no cabelo, a lágrima pintada no olho, as meias coladas nas pernas. Eram pra ti,meu bem. A música escolhida no disco, o champanhe gelado no camarim. Os morangos escolhidos na feira e cobertos de creme amarelo. Tudo é para o lixo agora?

As fitas penduradas na sombrinha. A corda esticada até o fim. A pele limpa cheirando alecrim. O banho demorado de espuma colorida. Era, tudo, pra você. E outro dia você não veio. Decerto foi ensolarar outro lugar. E assim fez-se noite dentro de mim.

Noite entre rostos estranhos, que aplaudem e aplaudem o espetáculo que não é deles. Que é teu. Que é só teu. E que você não quis.

2 comentários:

  1. Composto ao som de:
    http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ACaJt2Npf08

    Ignorem o nome e o conceito que você tem dessa música. Vale à pena, eu digo.

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  2. Um palco sem estrela.


    Já tinha visto a versão da música, realmente ficou muito boa.

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