Você aprende a enrijecer os músculos, a aguentar as pancadas. Você se faz de forte, mas é pura técnica, prestidigitação, ilusionismo de um mágico qualquer.
Vendo, porém, que você aguenta os socos, que resiste incólume aos traumas, cada vez mais pessoas querem tentar, querem ver o quanto a força de suas realidades é capaz de lhe ferir.
E você deixa. Deixa porque não deixar seria covarde demais. Deixa porque já se convenceu da própria mágica. Deixa porque esqueceu que seu feito é truque, sua força é farsa.
Sendo assim, lhe batem. Socos secos principalmente, mas não só. Batem-lhe de todas as formas possíveis. E você finge que aguenta.
Até que um dia vem um soco qualquer e você está ainda despreparado. Não deu tempo de enrijecer os músculos, não foi possível botar a capa de madeira fina sob a camisa, para esse você não conseguiu estar pronto. O soco veio e arrebentou tudo por dentro.
Mas você continua fazendo de conta que é forte. Continua desafiando a dor. Continua com o show porque ele não pode parar.
Mas ele para. Quando você cai morto, cansado de testes e baques, cansado de fingir-se de forte, entregue, enfim, ao que de humano há em você. Então o show para. E dessa vez é para sempre.
É verdade, o espctáculo não pode parar, a força mão se pode perder. Mas não somos super-heróis, somos humanos apenas...
ResponderExcluirGostei muito do seu texto, há muitos Houdinnis anónimos por aí...!
Abraço
Entregar-se a própria humanidade talvez seja o gesto mais sincero que uma pessoa pode fazer. Mas todos evitam
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