quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Post Confuso...

Hoje, não sei por que cargas d'água fui parar em 2004. Fui parar no início deste blog, ainda em outra plataforma, ainda cheio de sangue pingando e caveiras e cemitérios. Ainda quando eu acreditava que seria escritor e que teria minha vida inteira transformada pelas palavras. E tive. De certa forma tive. De certo modo eu consegui mesmo viver em função da escrita, embora não do modo como imaginava lá.

Entre os textos, um deles me chamou a atenção. Porque, na época, não era para mim. Agora é. Agora eu senti mesmo como se ele fosse uma mensagem minha para mim. Sabe como é?! Como aquelas cartas antigas que escrevemos para nós mesmos e escondemos, na esperança de encontrá-las algum dia no meio de um livro velho e empoeirado.

Estou me perdendo no discurso. Estou sendo clichê desde o começo. E não me importo. Minha escrita hoje tem sido muito cuidada, muito educada, sentada de pernas fechadas e mãos sobre o colo. Sem mexer em nada. Minha escrita aprendeu a ser acomodada. Aprendeu a sorrir para as visitas, polida, muito polida. Mas pouco prática, pouco espevitada, pouco espiritualizada. Minha escrita ficou asséptica. Ela que antes era toda alma. Minha alma.

Volto para cá, de novo. Em perdão das redundâncias. Volto porque ninguém mais vem aqui. É casa vazia no meio do nada. Casa na qual eu posso gritar e gritar e gritar. Ninguém escuta. Volto e volto lembrando dos caminhos que eu fazia. Dos Posts Confusos, por exemplo, em que eu enveredava em assunto atrás de assunto atrás de assunto. Acho que é isso que está nascendo aqui. Porque não me controlo mais e tudo vai fluindo, brotando, natural pela primeira vez em muito tempo. Eu sinto que poderia passar o dia inteiro aqui, escrevendo sem parar, sentindo o gosto amargo que tenho na boca, o frio dessa sala do IF, olhando de soslaio para a caveira sobre a mesa que não é minha mesa e pensando em tudo que ela me tirou durante este ano. Ou melhor, em um só dia.

Do Vinícius de 2004, veio isso:

Estou escrevendo só para dizer que sei como você se sente, a confusão faz parte de nossas vidas, mas tudo muda um dia, por isso, melhor não desanimar. Na próxima noite, quando a Lua nascer nessa terra distante, e próxima que te encontras saiba que fui eu que pedi para que ela iluminasse tua vida. E se nessa noite a Lua não aparecer, não temas pois até ela preferiu deixar que nosso amor se concretize no momento certo. Apesar de não te conhecer, sinto sua falta. Saberás que é para ti no momento em que ler. O destino se encarrega de certas coisas quando os sentimentos são verdadeiros. Nem sabes o quanto queria fazer parte da tua vida, porém, como não posso espero, espero para ter-lhe em meus braços novamente, como da última vez. Espero que olhes para a Lua, mas espero também que sintas o vento. Sim, isso mesmo, mandarei também o vento para acariciar sua pele. Logo depois de ler isso, vá até uma janela, o que sentirás é um beijo, transformado em suspiro e levado atá você pelos Silfos. Não se sinta sozinha. Estou ao seu lado, basta você notar...

Ele sabe como eu me sinto. Eu sei como ele se sente. Ainda somos o mesmo em tantos níveis, tantos. Ainda somos a mesma esfinge sem mistério. Ainda tentamos impressionar. Ainda procuramos, desesperadamente, por um amor. Um amor próprio. Ainda temos alguma crença em luas que iluminam vidas. Ele não me conhecia, mas sentia falta de mim. Eu não o esqueço e sinto saudade dele. Eu soube. Soube no momento em que eu li que esta mensagem não era para uma menina qualquer da época. Era para mim mesmo, hoje. O destino se encarregou de trazer o texto para mim. Eu prometo reparar na lua, que nem sei em que fase está. Eu prometo me deixar beijar pelo vento, em vez de reclamar da sujeira que ele traz. Eu vou até a janela, assim que puder. Mas não sei se consigo me sentir menos sozinho. Menos desamparado.

A escrita faz isso. A escrita fez isso por mim em grande parte da minha vida. Desde 2004 e antes, muito antes. Eu conseguia colocar na tela o que tinha na alma. Agora não sei se consigo ainda. Tudo me parece muito privado. Eu me pareço muito fechado. E se alguém ler? E se alguém vir? E se alguém me julgar? O meu menino de 16 não se preocupava com isso. Ele queria ser visto, ser lido, ser comentado. Ele estava ansioso por isso. Eu não estou mais. Ou estou ainda, só que de um jeito diferente. De todo modo, nós dois queríamos sumir. Nós dois fugíamos das fotos e dos espelhos. Nós dois lidávamos com o que  não podíamos entender, enquanto flertávamos com a morte e fingíamos saber alguma coisa sobre ela.


 

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