domingo, 24 de agosto de 2008

Das Luas

“Quando Ismália enlouqueceu”


Porque Ismália viu o homem pisar na lua, mas nunca o viu descer de lá, pensa que ficou no céu. Nas noites de lua cheia, olha serena e amantíssima, confidente e piedosa, só ela se deu por conta que esqueceram um homem no espaço?
Na minguante pensa o quanto deve ser difícil ficar se equilibrando só naquele pedacinho que sobra. Pior ainda na nova. Ela procura a lua na imensidão negra do céu, nem sempre a encontra, mas imagina o pobre homem sozinho no escuro. Será que é frio lá na lua? Ah, Ismália queria tanto aquecer o homem da lua.
Sonhadora e romântica ela sente com uma certeza instintiva e pungente; o homem da lua está olhando para ela! Sentadinho na imensidão de prata, vendo no planetinha azul e nebuloso, por entre os prédios, as calçadas das ruas, a mulher de vestido com florinhas vermelhas, olhando para ele.
Ela chora. Uma lagrimazinha quente que cai no decote entre os seios murchos. Pobre do homem na lua! Tão apaixonado, sempre a observando aqui na Terra, sem ter como encontrá-la. Um amor assim tão bonito e tão difícil, tão distante e tão branquinho. Ela joga um beijo pro céu. Espere, amor, que já vou indo.



Ismália
(Alphonsus Guimaraens)

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava longe do céu...
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar. . .
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma, subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

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