sábado, 8 de novembro de 2008

Sexto Ato*

Das saídas de Pseudo

E então ele saía, todos os dias, por outras lojas de mesmo nome, com cartões de mesma letra, quase sempre dizendo assim: Bonito texto, parabéns, passa lá na minha loja ver os meus. Os donos das outras lojas lá iam também, deixavam um cartão igual, um convencendo o outro de que ambos eram bons. Às vezes trocavam cartazes, pendura o meu aí, que penduro o seu aqui.
Na calada da noite escura, onde sequer um verbo era visto no céu, corriam nas lojas mais distantes, roubando uma frase daqui, um verso dali. Depois pintavam tudo de outra cor, colavam a etiqueta da sua marca e exibindo a peça na vitrine, a título de lançamento.
Dava-se grande importância o tal Pseudo. Barão das Letras, Conde das Artes, Duque das Palavras e Marquês de Frases. Adivinhava no espelho a fama, a glória todo júbilo e todo louro que pudesse haver sobre a terra dos homens.
Ia de hora em hora contar o número dos que paravam ver a vitrine. Fazia chamariscos, promoções, sem o talento, tudo em vão.

* Sexta parte de um conto em tom teatral, ainda não publicado.

Um comentário:

  1. Realmente, se não é talentoso no que faz, não espere reconhecimento.

    Parabéns! O texto é bem realista.

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