terça-feira, 8 de setembro de 2009

De que entreis em minha morada

Limpei a casa. Pintei de nova, desfiz as teias e plantei as flores da janela. Arranquei o inço, caiei o muro, consertei a cerca e matei formigas. Lavei os tapetes, poli a prata, troquei os lençóis e perfumei os cômodos. Assei carnes, preparei manjares, comprei toalhas e desempoerei toda a porcelana. Arranjei rosas, banhei os cães, bordei as fronhas e varri o porão.

Esperei.

Por todo tempo você não veio. Quando as rosas secaram, as toalhas sujaram e os manjares azedaram, você chegou. Carregado de ouro, olhou para tudo: o pó nos móveis, as manchas nos lençóis, as flores mortas, o inço alto, a prata preta...

Nem entrou. Ainda da rua jogou-me só uma palavra. É dela que tenho sobrevivido. Na primeira fome comi-lhe um "A". Ficou-me "deus". Em nova voracidade devorei-a dos dois lados. Restou-me "eu". E isso? Isso eu guardo nas gavetas. É tão pouco que nem à gula tenta.

10 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  2. Teu blog sempre um espaço de pura literatura, intima poesia e agradáveis surpresas...

    Bonito layout!

    voltarei sempre!

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  3. Tem estado deveras inspirado... Acho que foi o melhor texto que eu li aqui!

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  4. é... as vontades das pessoas não são sempre recíprocas e nem sempre simultâneas... temo acabar me identificando com esse texto por agora. =\

    > parabéns! o 'novo blog' ficou mto belo! e finalmente... feeds!!!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Preciso de uma ajudinha tua com meu layout...como retiro o 'leia mais' que fica no template? pode me auxiliar? abs

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  7. Tudo no seu blog é maravilhoso! Desde o visual,até as palavras...
    Mas se apenas fosse o pretinho básico,para mim ainda seria o mais bonito de todos que eu li.
    Porque as palavras tem o poder de embelezar,ou enfeiurar quem as coloca no papel,ou as joga ao vento.
    E as suas,tem singular beleza.
    Encantei-me.

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  8. Um breve perdão pela ausência - se maior não fosse a ausência própria. Outra vez mais, valeu a tarde e o tempo, que até pára, embasbacado. E a todos, boa antropofagia, se já não nos bastamos. Aprecio, realmente, degustar suas palavras.

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  9. Gostei muito! =D

    Até,

    Bianca.

    http://only-dark.blogspot.com/

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  10. Acredito q um outro texto possa tb te fazer sentir, é desses textos que sentimos por tb sentirem a gente.

    (...) Decidiu, ponto. Como arrumar a cama. Como limpar as gavetas. Como empilhar a louça.
    Botou na cabeça. Como quem bate a porta. Como quem desliga o telefone na cara.
    Pronto. Como desistir de um curso. Como abandonar uma viagem.
    Sem recurso. Sem direito de resposta. Sem pensar duas vezes.
    Você vomitará inteiro seu amor por mim. Com os dedos na garganta.
    Você deixará o banho transformada. Sem nenhuma lembrança da praça e da noite em que tremia de frio.
    Recomeça o ano com um caderno mais bonito do que sua letra.
    Sofrerá um pouco de contrariedade no início. Como um vício. Após a primeira semana passa. Acredita que passa.
    Você pedirá atestado médico. Para não ir ao trabalho desse amor. Ao expediente desse amor.
    Você fará quimioterapia desse amor. Arrancará o cancer desse amor. Arrancará o caroço de minhas mãos de seus seios. Arrancará o pressentimeto do meu braço de seus ombros.
    Nenhuma choradeira. É natural desamar. Como espantar insetos com o calor. Como recusar esmolas no sinal. (...)

    (fabrício carpinejar)

    Enqto de um amor bandido, falido, ferido ainda o "eu" restar, teremos sempre como continuar. O q há de mais valioso ainda ficou, o q nos sustenta ainda aqui está.

    Deus é tb feito de "eus"...q acreditam nele.

    Fé, força no caminhar dos dias, é o q te desejo...superação.

    um bjo

    Erikah

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