terça-feira, 15 de setembro de 2009

Do que se perdeu

Só tenho saudade de um conto, dedicado a um amor de ocasião. Tal romance curto era de uma doçura insuportável, uma beleza aguda e cortante. Não, eu não lembro a natureza exata dele e, talvez, aí resida minha fascinação. Em não sabendo ao certo o desenrolar, minha mente, quem sabe, o supõe mais belo. São muito vagas as memórias que tenho dele, apesar de intensas. Sei da chuva, de um apartamento, de whisky, de coisas que não deveriam ter sido ditas, mas foram. Que coisas? Nem idéia faço.

Lembro do conto, sendo construído todo de quase toques, de movimentos suspensos, de carinhos retraídos, de uma boca que parte em direção à outra... quase chega, mas volta. A sensação que me dá este texto é a mesma da respiração sobre a pele. O misto de medo, hesitação e prazer. A dúvida do não-querer e a certeza do arrepiar. O momento em que se espera e a mão não vem. Sente-se o calor, mas não o toque.

Que fim levou o conto? Pois não sei. Tão logo o terminei, dei-lhe um nome bonito, agora imemorável, salvei e fechei. Ao tentar acessar o arquivo, poucas horas depois, tudo que encontrei nele foram quatro páginas de um branco imensurável. Apressei-me em tentar reconstruí-lo... Impossível. Nem uma linha eu sabia reescrever. Então foi assim? O conto simplesmente vazou inteiro de minhas veias impossíveis e fluiu para o papel, sem nem deixar marcas? Foi. Foi assim. Em mim não ficou nada, tudo foi para o arquivo que, por arte de qualquer prestímano, estava agora esvaído em brancos.

O amor de ocasião me durou pouco, fugiu de meus romances e caiu em um casamento, típico adereço das comédias de costumes. O que me doeu foi ter perdido o conto. Este sim deixou marcas. Era quase bonito demais.

4 comentários:

  1. O conto se ainda o tivesse talvez não dispertasse e ti os mesmo sentidos de antes...as vezes é precso ler com o sentimento, sem sentimento não há muito sentir....qtas vezes releio algo q escrevi e não me percebo ali, não sou eu, não tem nada a ver comigo. Talvez fosse necessario reciclar o q foi escrito. Assim q faço poucas vezes.

    Depois deste texto vieram outros e com a perda dele veio este.... é preciso nunca deixarmos de escrever.

    Uma leitora tua te deixa um beijo a espera do novos textos q ainda hão de vir.

    Erikah

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  3. O comentário tudo bem....mas o beijo seria dispensável...

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  4. pena... são as novas tecnologias atravancando a arte.
    porém, por outro lado, nasceu disso um ótimo texto! rs

    (não briquem, meninas daí de cima!)

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