segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mascarada nudez

Se fosse para me explicar eu teria que te desenhar uma máscara. Nos arabescos em volta dos olhos eu pintaria meus segredos, traços infinitamente delicados. Nos vazios e ocos eu te sussurraria as coisas que escondo nas partes cobertas.

Eu não saberia me desnudar sem pintar uma máscara. Não de falso, não de ator, não de nada. É só que máscaras fazem parte da arte. Nas cores escolhidas, com a face escondida, eu te contaria, de fantasia. Só de fantasia podemos ser nós mesmos. O arlequim em mim é mais verdadeiro que o homem.

Sem te assustar, então, eu contaria das coisas que brotam em mim. As magias sem mistério, os truques de encantar, os efeitos de ilusionista ruim. Na minha máscara maldita verias que meus traços de verdade estão fantasiados de festa. Veria que meu glamour é de brinquedo, meu coração é de plástico, meu carisma é todo inflável.

De máscara, como se fosse outro, eu te falaria mal de mim. Confessaria meias mentiras, desmetiria mantras sagrados. Em dois minutos eu te faria nem mais me perceber. No truque final eu me desapareceria de ti. Inteiro.

3 comentários:

  1. Máscaras, para fingir que é mentira a realidade... Ou para sentir melhor a vida... Ou somente para se esconder. O que é a vida, senão teatro?

    ResponderExcluir
  2. Curto e grosso, eu diria. Muito bom!

    ResponderExcluir
  3. E é desse artista mascarado que eu mais gosto. Teu arlequim é simplesmente instigante, apaixonante, contagiante.
    Difícil será tua missão de me fazer não te perceber...

    ResponderExcluir

Obrigado pelo seu comentário.