segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Valium

Ela se debruça na janela e vê a vida chover. Um livro morto nas mãos, uma carta desperdiçada dentro dele. Um motivo para ser triste: o menino não tem mais bicicleta, portanto, nada de flores perdidas na varanda. O menino nem é mais menino, paciência de ser sozinha, então.

Ela pensa e lembra de outro tempo, em que havia ao menos a promessa de estatelar. Hoje não há. Ela olha as lágrimas no vidro, escorrendo e formando imagens embaçadas. Ora uma flor, ora uma caveira, ora um peito aberto e com um urso dentro.

Na rua, um homem vai lento, cobrindo a cabeça com as notas da semana, não funciona. Ele se molha de qualquer jeito. As manchetes escorrem feito negro fluído pelas macilentas mãos. Se ele corresse, pensa ela, talvez não se molhasse. Como é inútil pensar por ele.

A água, que desce lamacenta, carrega, de repente, uma cabeça, de porcelana. Labiosinhos vermelhos, olhinhos azuis. Aparece e, no momento seguinte, afogou-se. É isso. E outro outono já pode chegar. Não faz diferença.

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