Pelos sonhos, é assim que ele começa a chegar. Começa a se esgueirar pela cama dela à noite. Começa a ser um toque sutil, um abraço, um beijo, sempre na hora de acordar.
E depois Clarissa levanta, lava o rosto, toca delicadamente a boca e vai para a janela. Lá ela espera algo que não sabe bem o que é. É pelo sonho que ele altera a equalização dos seus nervos. É no sonho que ele borda, ponto a ponto, a solidão da menina.
E Clarissa nota, de repente, o corpo mudando inteiro. Sente mais frio. Quer dormir todas as tardes. Perde a vontade de viver no país dos despertos. Já não tem interesse por qualquer coisa que não tenha em si a palavra “amor”.
Clarissa não se entende. Volta aos remédios, volta às buscas por alguém, volta a perceber o quanto é só.
É pelos sonhos que ele vai seduzindo a menina. É no impalpável do desejo que ele molda aquele coração pequeno, ao seu gosto. E em todos os lugares ele não está. Em todas as festas ele não aparece. Em todas as esquinas, paradas de ônibus, sinaleiras e cruzamentos. Em todas as salas, cinemas, reuniões, lojas e supermercados. Nada dele.
É pelos sonhos que ele faz com que Clarissa se apaixone pela névoa de que é feito. É pelos sonhos que ele dá na menina a vontade de não viver se for sozinha assim.
E depois, só depois, ele aparece. Real. Carne, músculos, sangue e ossos. Toques quentes nas mãos frias. E então diz à Clarissa, com todas as letras, que não a quer.
Algo está errado, o sonho ou a realidade. Eis sempre questão.
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