Era uma mocinha, do alto de seus sete-oito. Vinha empertigada por uma calçada, eu ia distraído pela outra. Nos encontraríamos na exata esquina.
Eu vi o pavor crescer em seus olhos, contrastando com a força das que são mocinhas: é que na minha mão ela via uma guia vermelha, mas não via, por detrás do muro, que cão eu levava. Em sua mente de menina passavam descontrolados cachorros enormes e raivosos, pelos negros, dentes afiadíssimos, língua salivante, olhos de vermelho horror! Ai, meu Deus!
Ela toda gritava por socorro. E ela toda se esforçava para manter a pose. Era mocinha. Não era criança de se assustar à toa. Enfrentaria. Tinha o que, imaginava, fazia das meninas mocinhas e das mocinhas mulheres: coragem.
As mãos brancas de menina segurando a mochila - e o grito. Os olhos, castanhos de menina arregalados de medo. As pernas finas de menina tremelicando nos últimos três passos. E toda ela mocinha. Toda ela valente, contendo-se. Toda ela disfarçando o medo, caminhando para o que viesse. Três passos faltando ainda. Será que eu paro? Será que eu corro? Atravesso a rua? Volto? Não!
Vou!
Três passos...
Coragem!
Um. Mas e se for um Rottweiler?
Dois. Ou um Pit Bull?
Três!
E o coração a se despedaçar por dentro.
Tum, tum. Tum, tum. Tum, tum...
O encontro.
TUM!
O encontro.
TUM!
- Aaaaai.... Que fofo.
Fora mocinha até ali. Podia, aliviado o medo, voltar a ser menina. E o seu "Ai que fofo" escapou com o encantamento que só as crianças têm pelo que é delicado. Com a descoberta da inutilidade do medo. Com a desconfiança de que a vida é boa. Com a certeza de que sua existência estava salva, de que poderia, sim, no exato tempo, se tornar mocinha. Por enquanto era menina. E uma menina que teria o que contar na escola.
Eu sorri, maravilhado - que é meu modo meio novo de ser. Sorri do medo insatisfeito. Sorri da vida ganhando. Sorri da mocinha empertigada se tornando só menina. Era bela a tarde. E o Bag, meu filhotão doce de poodle toy, seguiu caminho abanando o rabo, estufado de elogio e sol.
Eu sorri, maravilhado - que é meu modo meio novo de ser. Sorri do medo insatisfeito. Sorri da vida ganhando. Sorri da mocinha empertigada se tornando só menina. Era bela a tarde. E o Bag, meu filhotão doce de poodle toy, seguiu caminho abanando o rabo, estufado de elogio e sol.
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