quarta-feira, 3 de abril de 2013

Fardos


“Um besouro-rinoceronte consegue suportar nas suas costas um volume equivalente a oitocentas e cinquenta vezes o seu peso.”

“O homem mais forte do mundo consegue carregar quase três vezes o seu próprio peso.”

A testa franzida. O maxilar travado. Os olhos quase fechados. As veias pulsando em um ritmo perigoso. Os músculos todos estirados. A sensação de que não se pode mais aguentar. Ao mesmo tempo, a certeza de que não é do seu feitio desistir. Mais um passo. Só mais um passo. Eu posso. Eu consigo. Eu não vou me entregar agora... 

E então você desaba.

Você desaba como um Atlas que não aguenta mais o peso do firmamento. Você derruba toda sua carga e, no primeiro instante, tudo que quer é morrer.

Você se entregou. Você desistiu. Você, que nunca soube admitir fraquezas...

Então você permanece no chão, longamente. Você fecha os olhos e implora que tudo termine. Você quer fugir. Você quer morrer.

Algum tempo passa e nada se move no mundo.

Você abre os olhos de novo. Olha para toda aquela carga que você trazia e percebe que grande parte dela não era sua. Não era. Simplesmente você foi tomando dores alheias, você foi recolhendo as tristezas, frustrações e amarguras dos outros. Você tomou para si responsabilidades e lutas que jamais deveriam ser suas. Aquilo que fazia você ranger os dentes e franzir a testa era, enfim, o sobrepeso do que não era seu.

Você percebe que pode continuar. Pode, se só recolher do chão, entre cacos, o que é seu. As suas expectativas e frustrações, os seus sentimentos e pensamentos, as suas batalhas, derrotas e troféus. Você o faz. Pisando entre os despojos das cargas alheias, você recolhe as suas e as levanta. São leves. Com elas você pode. Assim você consegue continuar. Consegue com sorriso no rosto e leveza nos olhos. Você só precisa se lembrar, passo por passo, de que compartilhar a carga alheia vai tornar a sua insuportável; de que você deve continuar só com o que é seu e de deixar o que é dos outros continue com eles. Cada um com o seu peso. Cada um com suas dores. Agora você vai. Agora você já tem para onde ir.

2 comentários:

  1. É verdade, sem nos apercebermos, começamos a carregar as cargas dos outros. E só quando já não conseguimos andar nos apercebemos disso...!

    Belíssima reflexão!

    Beijo

    => Instantâneos a preto e branco
    => Os dias em que olho o Mundo
    => Pense fora da caixa

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  2. Os homens mais fortes neste mundo são os capazes de carregar a própria alma.

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