terça-feira, 15 de junho de 2010

Nossa dor alheia

“Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.” (Clarice Lispector)

Não é estranha essa carne humana nossa que se apraz de fazer doer o outro? E não falo de escalafobéticos esquemas sadomasoquistas. Falo bem mais simples. Falo das pontadas negras. Das indiretas fáceis. Das agulhadas finas.

Achamos que o outro merece ser ferido porque em algum momento ele nos feriu. Esse ferimento tantas vezes involuntário desperta em nós a dor. E a dor quer companhia. Somos já por si só sozinhos demais. Então o tapa na face alheia nos conforta.

“Ele me fez sofrer e agora eu retribuí”. Enfiar a faca e girar. Eu aceito. Porque há quem precise danadamente que eu sofra. Bem disse Clarice. Não quero atrapalhar se é da minha dor que depende alguma sobra de felicidade.

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