quarta-feira, 3 de março de 2010

Emoções Colecionadas

Nada de insetos, moedas, miniaturas ou selos, eu coleciono emoções. O que mais me fascina é sentir o que eu nunca antes senti. Amor, ódio, paixão, saudade, felicidade... Todas essas emoções são figurinhas repetidas, nos vêm até com certa facilidade. Aquilo que se sente sem nome é o que me delicia e horroriza.

Eu poderia rabiscar exemplos disso, mas prefiro citar Clarice Lispector¹: “Se recebo um presente dado com carinho por pessoa de quem não gosto – como se chama o que sinto? Uma pessoa de quem não se gosta mais e que não gosta mais da gente – como se chama essa mágoa e esse rancor? Estar ocupada, e de repente parar por ter sido tomada por uma desocupação beata, milagrosa, sorridente e idiota – como se chama o que se sentiu?”

Quando apresentei minha monografia senti algo completamente inusitado. Tomou conta de mim um misto de nervosismo e apreensão, orgulho e gratidão, além de inúmeras outras coisas inqualificáveis. Guardei tudo na coleção. Em qualquer outro trabalho importante a ser apresentado, eu já sei o que sentir.

Percebam que minha coleção é fruto do medo. Eu tenho um medo imensurável do que ainda não aconteceu, do que eu ainda não senti. Porque nenhum homem já se sentiu todo. Colecionar essas pequenas ou dilacerantes emoções me garante um piso seguro no qual caminhar.

Fazer uma prova de Mestrado foi outro sentimento diferente de todos os outros possíveis. Participar da entrevista, então, não pode ser comparado a nada que eu consiga colocar em palavras. Ser selecionado foi um pouco parecido com passar no vestibular, então não me surpreendi tanto.

Amanhã eu sei que tenho uma série de emoções novas pela frente, que me farão temer e tremer. Meu coração vai virar caixa de Pandora aberta, monstros soltos, incontroláveis. Eu vou recolher um a um dos sentimentos, guardando para usá-los em medos futuros. Nenhum deles, porém, será mais forte do que este que eu sinto agora. Já me invade uma emoção nova, misto de tristeza, sonho e desesperança. Como chama isso? Não sei, mas essa é a única emoção que eu preferia nem guardar na minha coleção.

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1 - Fonte: A Descoberta do Mundo.

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