terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Reconectar

Desplugar da pele os fios. Arrancar - delicadamente - o mouse das mãos. Remover com segurança as teclas dos dedos. Desligar a tela dos olhos. Abaixar o som do eterno zunido. Desconectar, enfim. É hora de deixar tudo para trás, fazer as malas e esquecer que a cidade existe. Vou para o interior. Mais para o interior, se é que isso é possível. Vou para dentro de dentro de dentro de dentro do estado - e de mim.

Perigosíssima viagem. Não aquela dos ônibus climatizados, mas aquela dos meus cômodos escuros. Aqui há sempre a fuga possível da internet com seus caminhos e suas horas que escorrem não passam. Lá vou estar comigo, esse homem que teimo em não querer conhecer.

Para chegar lá me despeço de tudo. Ou quase. Mas o computador com sua conexão nem é o mais fundamental. Sequer é importante o celular que nem sinal tem lá. Descubro na hora das malas que o mais difícil de abandonar são os livros. Há alguns de leitura quase pronta. E a tentação de esconder um deles na mala é muita. Mas não é férias? Se é, preciso tirar férias de quem sou aqui. E isso inclui a leitura.

Preciso ler as coisas que ainda não li dentro de mim. E para isso preciso me livrar das palavras. Pelo menos das outras palavras.

As minhas eu carrego, invariavelmente. Resultado disso são as únicas coisas que levarei como fundamentais. Dois elos dos quais não me desfaço: minha agenda de escrever textos e minha câmera de tirar fotos. Nem tudo fica. Eu preciso voltar e encher os olhos com o mundo de lá. Eu preciso me entender melhor pelas fotos que escolho tirar e pelas folhas que teimo em escrever. É a única forma. A contemplação pura não me preenche assim.

Então é isso. São as malas para arrumar, as coisas todas para encaminhar e depois a alegria de poder respirar. De ver sol, rio, montanha, rebanho de nuvem, casa incrustada no mato e aranhas do tamanho de laranjas maduras.

É hora de se renovar, de se reinventar. Aonde tudo mais é calma, inspiração e sossego, é hora de reconectar. Comigo.

2 comentários:

  1. sorte nesta determinante.

    o texto faz com que a vontade dos olhos que leem é de não terminar a leitura, sair correndo destas luzes e circunstancias cotidianas, mas por não ser possível aplaudem o caminho a ser traçado nas linhas alheias.

    sorte nesta determinante.

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  2. Que seja uma viagem reveladora !!!!
    E que as fotos mostrem você por você mesmo. Sem máscaras ou disfarces. Rústico, simples e vivo, como toda revelação deve ser.

    Aguardo as preciosas anotações que nascerão.
    Bjs, cincodezembrista!

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