Descascar uma laranja. Esse era meu objetivo de vida quando eu era só uma criança. Aquele processo todo de girar a laranja, a faca, as mãos, o mundo.... me parecia nada menos do que impossível. Eu olhava admirado vendo aquela casca soltar-se e formar uma serpentina comprida e ininterrupta. Eu nunca seria capaz. Eu sabia.
Quando descasquei minha primeira laranja, parecia que eu nascera fazendo aquilo. Era um movimento automático, independente de mim, não exigia habilidade, esforço, esperteza, destreza. Exigia a laranja, a faca e as mãos. Só.
Quando descasquei minha primeira laranja, parecia que eu nascera fazendo aquilo. Era um movimento automático, independente de mim, não exigia habilidade, esforço, esperteza, destreza. Exigia a laranja, a faca e as mãos. Só.
Muito tempo depois, na faculdade, eu definia que impossível seria saber algum dia as classes gramaticais todas, os tempos verbais, as classificações das orações coordenadas e subordinadas.... As professoras diziam tudo aquilo com uma naturalidade extraterrestre. Não me era concebível como um ser humano comum, eu, no caso, conseguiria saber tudo aquilo algum dia.
Hoje eu recito a classificação das palavras de um texto inteiro, sem nem respirar.
Isso tudo me fez pensar que o impossível é, às vezes, uma questão de tempo. O que hoje me parece inatingível amanhã poderá ser só natural.
Toda essa reflexão é para perguntar o seguinte: e agora, quando é que eu vou saber exatamente o que dizer? Quando eu vou resolver meus problemas de forma confiante e eficiente, sem parecer um retardado gaguejante? Quando eu vou saber a resposta certa para uma provocação, para um elogio, para uma delicadeza inesperada? Quando eu vou perder o sorriso sem graça? Quando eu vou deixar de lado o embaraço e a sensação de desamparo?
Algum dia também isso se consegue? Ou chegou a hora de eu descobrir que algumas coisas são mesmo impossíveis, não importando quanto tempo passe? Chegou a hora, Carlos, de aceitar que alguns nascerem mesmo para ser gauches na vida?
Se alguém souber, por favor, responda.
Tem coisas que se aprende, tem coisas que somos. Não são questões de impossível, são questões de escolha.
ResponderExcluirCarlos? Espero que seja o Chacal...
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