terça-feira, 9 de março de 2010

De mestres, professores, escritores e poetas

Eu imagino que um Mestre deve escrever com rebuscamento e polidez. Qualquer coisa assim prolixa, que necessite ser decifrada e lentamente digerida. Seu texto precisa ser sério, científico e, preferencialmente, bem embasado. Palavras exatas, lugares medidos, tudo perfeito a fim de demonstrar eficiência e saber.

Eu imagino que um professor deve escrever com cuidado e correção. Qualquer coisa assim polida, seguindo modelos iniciados por um “tópico frasal” e terminados por uma fina conclusão. Seu texto precisa, invariavelmente, obedecer a cada regra, cada disposição gramatical, sem esquecer uma ênclise sequer. Preposições bem alocadas, palavras cultas e na medida, além de alguns poucos usos do ponto e vírgula.

Eu imagino que um escritor deve escrever com seriedade e perfeição. Qualquer coisa assim criativa, apresentando uma opinião e um ângulo novo para se observar. Seu texto precisa ser acessível ao mesmo tempo em que rebuscado. Uma vitrine da sua cultura e de seu refinamento, demonstração da inteligência dos costumes e da habilidade com as letras.

Eu imagino que um poeta deve escrever com criatividade e coração. Qualquer coisa assim bonita, rimada e aliterante, que embale em música o ritmo das palavras e os sentimentos do leitor. Seu texto precisa ser claro e simples, tocante e melódico. Versos metrificados, rimas ricas e sentimentos escaldantes.

Eu imagino que, pensando em tudo isso, eu chegue a uma conclusão inusitada:
Nem sou mestre, nem professor, nem escritor, nem poeta, nem sou nada.
Mas escrevo, escrevo e para mim a escrita é tudo.
De agora em diante, risco meus rótulos.
De meu, só fica o nome.
Ou nem isso.
V.

3 comentários:

  1. Ótimo!

    Me causaste perturbação com este texto, como quase sempre...
    Bom, pelo menos posso reforçar um pouco mais minha desconfiança de que "não sou nada", como tu bem disseste... Isso é ao mesmo tempo triste e libertador.

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  2. Se for olhar por este lado, eu também não sou nada. Escrevi uma poesia hoje. Terrível! Rimas extremamente pobres e totalmente previsíveis.

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  3. escrevamos, então. para além de como "devemos" escrever, escrevamos...

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