terça-feira, 23 de abril de 2013

Sete anos

Depois de sete anos você cansa, briga e resmunga. Você perturba e se perturba com as mais mínimas manias. Sim, depois de sete anos você discute, discorda e tem ganas de sumir...

Mas aí você percebe que, depois de sete anos, você incorporou o cheiro dela ao seu. Você entende cada olhar, você antecipa vontades, você faz o impossível só para vê-la sorrir. Depois de sete anos você sempre sabe para quem ligar no pior momento. Você ainda a espera chegar na janela. Você experimenta, então, uma intimidade que jamais pensou existir: você conhece o toque, o gosto, as lembranças, os sonhos...

Depois de sete anos você chora na frente dela e confessa, uma a uma, suas fraquezas. Você recebe o carinho certo no momento certo, você tece planos, conquista objetivos. Você ouve "nãos" e aprende a aceitá-los. Aliás, você aprende a cada instante como ser melhor, porque começa a cultivar em si todas as características que admira nela.

É tanta história. São tantos os momentos de entrega. É tanta a confiança e tanto brilho nos olhos que você não consegue, depois de sete anos, imaginar uma vida sem ela.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Um brinde!


Amanhã, a essas horas, não haverá champanhe gelado, pronto para espocar. Não haverá comemoração, drinques e amigos em um bar. Não haverá sequer um café e alguém para conversar. Não haverá abraços e felicitações e promessas falsas, fáceis de se acreditar. Não haverá mimos, agrados, lembranças pra se guardar.

Amanhã, quando mais tarde eu abrir a porta de casa, sei que as luzes não estarão apagadas. Sei que não haverá quem grite "Surpresa!", quem tenha organizado um jantar. Não sei se haverá quem pergunte como foi.

No outro dia, não haverá comemoração, fogos, diversão. Não haverá faixa, diploma ou retrato em jornal. Talvez (não sei) alguém lembre e pergunte, entre conversas amenas dos colegas nas vilas, entre uma aula de matemática e outra de geografia. E eu vou, então, sorrir e dizer (mentindo ou não) que foi bom. E a seguir falaremos mais dos problemas de algum sétimo ano.

Esse texto não é choro, nem lamento, nem grito irado. É constatação. Constatação de que não haverá porque não sou desses para quem há. Para quem há festas, bebidas e brindes. Não sou desses para quem há amigos e abraços e faixas e fotos.

Sou dos que, hoje à tarde, bem sozinhos, bebem uma vodka com morangos (que gelaram em refrigerador quebrado) e brindam ao nada. Brindam à toda lama e toda bosta que viram essa semana, brindam às escolhas erradas, aos caminhos sem volta, à falta de revolta e à ausência até de dor. Sou dos que comemoram a nulidade que se tornaram, bem sozinhos, talvez quase mestres, com a única certeza de que, até agora, não há motivo para comemorar. 

Tim tim.

A isso então.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Fardos


“Um besouro-rinoceronte consegue suportar nas suas costas um volume equivalente a oitocentas e cinquenta vezes o seu peso.”

“O homem mais forte do mundo consegue carregar quase três vezes o seu próprio peso.”

A testa franzida. O maxilar travado. Os olhos quase fechados. As veias pulsando em um ritmo perigoso. Os músculos todos estirados. A sensação de que não se pode mais aguentar. Ao mesmo tempo, a certeza de que não é do seu feitio desistir. Mais um passo. Só mais um passo. Eu posso. Eu consigo. Eu não vou me entregar agora... 

E então você desaba.

Você desaba como um Atlas que não aguenta mais o peso do firmamento. Você derruba toda sua carga e, no primeiro instante, tudo que quer é morrer.

Você se entregou. Você desistiu. Você, que nunca soube admitir fraquezas...

Então você permanece no chão, longamente. Você fecha os olhos e implora que tudo termine. Você quer fugir. Você quer morrer.

Algum tempo passa e nada se move no mundo.

Você abre os olhos de novo. Olha para toda aquela carga que você trazia e percebe que grande parte dela não era sua. Não era. Simplesmente você foi tomando dores alheias, você foi recolhendo as tristezas, frustrações e amarguras dos outros. Você tomou para si responsabilidades e lutas que jamais deveriam ser suas. Aquilo que fazia você ranger os dentes e franzir a testa era, enfim, o sobrepeso do que não era seu.

Você percebe que pode continuar. Pode, se só recolher do chão, entre cacos, o que é seu. As suas expectativas e frustrações, os seus sentimentos e pensamentos, as suas batalhas, derrotas e troféus. Você o faz. Pisando entre os despojos das cargas alheias, você recolhe as suas e as levanta. São leves. Com elas você pode. Assim você consegue continuar. Consegue com sorriso no rosto e leveza nos olhos. Você só precisa se lembrar, passo por passo, de que compartilhar a carga alheia vai tornar a sua insuportável; de que você deve continuar só com o que é seu e de deixar o que é dos outros continue com eles. Cada um com o seu peso. Cada um com suas dores. Agora você vai. Agora você já tem para onde ir.