sábado, 1 de agosto de 2015

F I M

Fim. Foi o fim, mas eu não escrevi assim, “FIM”, quando terminei. Para isso eu não tive coragem. Hoje foi um dia pleno dessa falta de coragem, aliás. As horas se arrastaram em cada segundo. Eu cheguei a pensar duas ou três vezes em adiar, em deixar o término para amanhã, mas então eu não pude mais.

Eu lembrei de uma aluna minha. Ela escreve uma fanfiction chamada “Meu príncipe arrogante”. Cada vez que a história está para terminar, ela emenda um novo conflito, outra complicação, uma mudança de rumo. Ela não consegue deixar a história ir.

Eu expliquei que ela precisava fazer isso. Eu expliquei que, na ficção e na vida, as coisas acabam.
Fácil dizer, difícil fazer.

Nessas férias de inverno, eu travei um compromisso comigo: o compromisso de que eu seria um escritor. Pelo menos por esses quinze dias eu escreveria. Eu cumpriria uma meta. Eu colocaria no papel o romance juvenil que eu queria.

E eu fiz isso.

Três mil palavras, no mínimo, todos os dias. Eu consegui. Letra por letra, eu teci a história que eu precisava contar. E que história. Ela foi importante de um jeito que eu ainda não posso medir. Importante porque ela despejou para fora muito de mim. Ela perdoou muito do que me aconteceu. Ela me revelou e me fez compreender a criança e o adolescente que eu fui. E que continuam sempre em mim.

Hoje foi o dia de terminar. O dia de dizer adeus para os amores e medos que eu criei. Hoje bateu a insegurança. Eu fui escritor por este tempo, mas e agora?

Sim, eu sei, ainda há muito por burilar. Para ser sincero, agora é que o trabalho começa. Revisar, cortar, incluir, corrigir, mudar. Mas mesmo assim, a história já existe. Nenhum personagem mais vai surgir e me surpreender. Nenhum medo e nenhum amor virão, além daqueles que já existem. Eu não vou parar meu dia para pensar nesses meus filhos de tinta. Eu já coloquei no papel tudo de mim, meu coração inteiro. E agora?

Meu Deus, como é difícil terminar uma história assim. Eu já sabia o que ia acontecer. No começo eu achei que sabia de tudo. Aí veio o livre arbítrio “deles” e o final mudou inteiro. Mesmo assim, hoje eu sabia o que precisava escrever. Mas eu adiei. Meu Deus, como eu adiei.

Talvez eu fiz isso porque soubesse só o que aconteceria no final deles, não no meu. O livro terminou. Clarissa disse adeus. Mas eu não disse ainda. Eu não escrevi “FIM”. E enquanto eu não escrever, não termina. A minha história não termina.

Para dizer a verdade, eu tenho a impressão de que ela começa agora.

A minha história começa agora.