domingo, 22 de junho de 2008

De amor

“Sou mulher, pobre, negra, posso até ser feia, mas graças a Deus estou aqui!”

Estamos todos aqui.
Em busca de quê?
Amor, talvez. Como deve ser ter a certeza de que não há ninguém nos amando naquele determinado momento? Será parecida com aquela que temos quando quem amamos não nos ama?
Somos seres complexos, meus caros.
Estabelecemos tantas relações, impossíveis de numerar. Temos nossos pais e nossos filhos, nossas namoradas ou maridos. Temos amigos e colegas de trabalho. Somos seres sociais e nutrimos todo tipo de amor ou desamor.
A regra é conviver, respeitar. Amar? Nem sempre.
Há filhos que odeiam os pais e vice versa. Há pessoas casadas que se odeiam, e há as que amam outras pessoas. Há quem ame um amigo. Há quem ame alguém que já morreu. Há quem ame alguém que nem conheça, não é mesmo?
Não mandamos em nossos sentimentos e não há nada mais belo e inspirador que o amor, mesmo que unilateral, acreditem em mim. As mais belas poesias de amor falam de amores não correspondidos.
O que me entristece é a possibilidade de haver quem não ame ninguém.
Nenhuma lembrança doce, nenhuma vontade súbita, nenhum coração palpitante, nenhuma alegria ao cair da noite. Só um silêncio, um vazio estranho, um nó distinto na garganta. “Faz frio e eu amo sozinho”.

Assistam A Cor Púrpura.
PS: Eu te amo.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Valsa Vienense

Eu queria ter um sonho simples. Dançar valsa em Veneza, por exemplo.
Eu sou o louco que salta do precipício. Não sei se tenho asas, se sei voar, se terá alguém esperando lá embaixo. Só salto. Dançar valsa em Veneza é ter uma certeza.
Eu já li o futuro de tanta gente, no entanto, o meu não sei.
Se eu quisesse dançar valsa em Veneza, eu teria um sonho, uma meta, um objetivo. Não me deixaria arrastar pelas ondas dos dias. Cada manhã eu acordaria sabendo onde, exatamente, deveria chegar.
Eu economizaria, compraria as passagens, chegaria em Veneza, conheceria a cidade, andaria de gôndola e dançaria uma valsa. Pronto!
Nem precisaria haver música, eu poderia cantarolar. Nem precisaria haver um par, eu improvisaria com o ar. O que importa é que, desta forma, se meu sonho fosse dançar valsa em Veneza eu o teria realizado.
E depois? Depois era ser feliz, ora.
Não achamos sempre que realizando ‘aquele’ sonho seremos felizes? Então.
Talvez a história funcione melhor com velhos. Depois de dançar eu poderia morrer em paz. Mas minha idade é curta e a linha da vida é longa. Então precisaria ter outro sonho, coisa que quebra todo roteiro inicial.
Humpf. Deixo que uma mulher que tinha muitos sonhos e acabou cometendo suicídio explique melhor:

Figos
De Sylvia Plath
Em A Redoma de Vidro

"...Vi minha vida se desenrolar diante de mim como uma figueira de um conto que havia lido. Da ponta de cada ramo, um gordo figo roxo acenava e me seduzia com um futuro maravilhoso. Um figo significava um marido e um lar feliz com filhos, outro era uma poetisa famosa, outro uma professora, outro era Esther Greenwood, a surpreendente editora, outro era a Europa, a África e a América do Sul, outro Constantin e Sócrates e Átila, um bando de amantes com nomes esquisitos e profissões originais, outro ainda era uma campeã olímpica, e acima de todos esses figos havia muitos outros que eu não conseguia entender. Vi-me sentada sob essa figueira, morrendo de fome, só porque não conseguia decidir qual figo escolheria. Queria-os todos, e escolher um siginificava perder o resto. Incapaz de me decidir, os figos começavam a murchar e apodrecer, e um a um caiam no chão a meus pés..."

sábado, 14 de junho de 2008

Voejar... Voejar...

Tenho coisas tantas para contar, mas as palavras fogem, uma a uma, borboletas a voejar. Não ouso chamá-las ao torno, acho-as bonitas voando, calo e silencio então. Fico na janela, como que pego a observar distraído. Seria uma judiação prender suas finas asas com fios de alfinetes. Seria belo, mas pobre.
Aprendi coisas muitas nas últimas horas, sempre apressado, sempre atrasado. Olho para a coruja que comprei. Voejar, aprendi isso também. Símbolo máster da arte de ensinar. Aprendi a ensinar.
Concluí meu estágio, não sem todos os méritos cabíveis. Satisfação e saudade já, de tudo que passei. Quase tudo. Tudo é uma palavra muito grande, quase uma mariposa de asas pesadas.
Agora é esperar qual o novo roteiro da vida, interpretar a peça e aplausos ou vaias então. Refinada arte esta de escrever. Caprichosa, eu diria até. Tem dias que me ama com volúpia, noutros não me quer.
Que seja feita sua vontade então. Que as espumas do mar compareçam ao perfume do sabonete, lavando todo corpo, toda alma, toda sorte e toda lama deste ser só meu.
Até mais, palavra, voejai sem pressa.

sábado, 7 de junho de 2008

Hiato

Não há aflição maior que a página em branco. É o sangue negro das letras que macula a virgem e a torna merecedora dos meus pecados. Escrever, para mim, é confessar, redimir culpas, expurgar demônios e encerrá-los entre as linhas. O som do riscar da pena confunde-se ao do meu vôo e torno-me leve então. Eu escrevo o que ninguém entende. Coloco em palavras meus indizíveis. Mascaro sentimentos, fatos, dores, paixões. Faço em uma simples folha um carnaval vienense. Onde os próprios convidados não se podem reconhecer. Eu sinto quando escrevo. Não há outra forma de fazê-lo. As letras não saem das minhas mãos, menos ainda dos meus dedos. Elas saem em fluxo, contínuo e farto, dos meus pulsos cortados. Há sentimento por isso, por fazerem parte do meu sangue, ou antes por serem meu sangue. Cada texto é uma profecia, um feitiço, uma prova de sedução, tudo é enfim, um sortilégio de promessas fartas.

E é por isso que quem me ler, inteiro, nunca mais será o mesmo.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

De Náufragos e Mariposas

E quem aqui nunca se sentiu sufocado. Sufocado pelos dias, sufocado pelas horas. Quem já não pensou em fugir de tudo, desgraçar a rotina?
Há um mar em nossos pés, apenas esperando. Por vezes as ondas lambem salgadas o nosso corpo, imploram nossa presença. Suplicam para que nos deixemos naufragar.
Pular no mar é fácil, difícil é permanecer no barco em meio à tempestade. Há motivo pra prosseguir? Há coragem para parar? A vida é complexa, meus anjos. E ela obriga escolhas. Chega um momento em que precisamos decidir: ou ficamos ou pulamos. Depois disso, todo resto é pura conseqüência. Há em tudo uma inevitável fatalidade. Os deuses não me deixam trapacear no jogo do tarot.
Eu queria uma partida de cartas marcadas, onde por um descuido eu pudesse escolher meu destino. A primeira carta seria a morte.
E só quem conhece aquela série de simbologias pode entender. Eu preciso da morte da lagarta. Eu preciso do caixão que é o casulo. Eu preciso abrir as asas e voar livre, quando estiver pronto.
Tudo é uma questão de borboletas, mariposas, na verdade.
Obrigado, irmã, por voltar a voar.
Que eu encontre dentro de mim a mesma coragem, não sufocar, neste mar de projetos, pesquisas, relatórios, trabalhos e desgostos, é difícil demais.