De Ághata até a loucura me era boa. Daquelas que lhe inflamavam o ser numa tarde de terça-feira e fazia-nos deitar sobre as pedras do piso. Ela destramava suas sapatilhas das miçangas e me deixava brincar com seu colorido. Gostava de ouvir seus contos de fadas. Como nestas horas ela própria era fada, fazia as próprias histórias. Sempre gostei daquela da menininha de capinha vermelha que se perdia no bosque até encontrar sete anões. Eles, então, levavam a criança até uma casa de doces. Onde ela era trancada em uma torre pela bruxa má, que descia por um pé de feijão. No fim ela dormia por cem anos. “E o príncipe?”, perguntava-lhe eu. Mas ela já dormira por estas idas.
Porém, nem sempre éramos assim. Eu lembro de uma outra Ághata e desta chego a sentir algo tão próximo ao ódio que não poderia chamar de outra coisa. Seus olhos faiscavam ira, era, portanto, personificação de todos meus males. Eu sempre chorei quando Ághata gritou. Sua voz entrava pelos meus ouvidos e mais, penetrava nos poros, seu berro invadia meu sangue e gelava o coração. Ela sempre pedia que eu falasse baixo, pois quando era alto meu tom de voz, eles poderiam acordar... Quando ela gritava, eles acordavam. E vinham, como Fúrias a me perseguirem. Assim foi minha criação, ora às cores, ora aos gritos.
De amos eu tenho medos, distintos. Na época eu não sabia coisas que eu sei. Eu não identificava ali as marcas de suas psicoses e esquizofrenias, palavras que hoje encontro nas bulas de seus remédios. Ainda cultivo o temor aos gritos, eles acordam os que estão do outro lado, eles não me dizem outra coisa senão “Te odeio”.
Em pensar que para me ganhar é preciso tanto, mas para me perder basta um grito. Eles sempre lembram que ela me odeia, por tudo.
domingo, 25 de novembro de 2007
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Não sei se Ághata existe para todos ou somente para ti e para quem lê teu texto, mas odeio é algo tão forte...
ResponderExcluirAh, não se ja lestes mas acho que o livro "A Menina Que Roubava Livros" combina muito contigo...!
rs...!
Tchau Anjo!
E obrigada por voltar a escrever!