terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Quanto mais as coisas mudam...

Você já se pegou preso nas suas próprias palavras? Como se elas formassem uma jaula, uma armadilha, uma camisa de força, uma poda às raízes, algo que te impede. Impede de sair para o mundo, de crescer, de fazer a diferença, na sua própria vida, inclusive.

Você faz planos, você tece ideais, você cria sonhos depois de sonhos em suas noites insones. Você imagina o que faria se tudo desse certo, o que conseguiria se as coisas mudassem agora, hoje, por um golpe de sorte, por uma bênção de Deus, por uma graça da Fortuna. Você imagina. Você planeja. Você cria mil universos alternativos e tenta atravessar para cada um deles.

Mas você quer isso de fato? Você quer, com todo seu coração, que a mudança venha? Ou você está preso. Preso nos cômodos cômodos da sua própria vida. Preso na casa que você se construiu e nos problemas que você gosta tanto de acariciar. Amarrado nas palavras que você usa, na cantilena de suas reclamações, que é chata, é demorada, é repetitiva, mas pelo menos faz você dormir.

Nos prendemos em nossas palavras e, ao mesmo tempo em que ansiamos pela transformação, não queremos que nada mude. Enriqueceríamos na loteria, mas continuaríamos a ir trabalhar na segunda-feira. Para disfarçar, diríamos no começo, tentaríamos nos convencer. Para ninguém suspeitar que fomos nós quem ganhamos tantos milhões. Mas e depois? Depois viriam outras segundas. Eventualmente, poderíamos desistir. Por um incômodo qualquer. Mas talvez relevássemos. Talvez, acostumados que estamos, relevássemos mais isso. Para quê? Para podermos continuar. Para nos mantermos fiéis às palavras que costumamos usar, às queixas que aprendemos a ter.

Seríamos milionários, acreditando que o dinheiro não traz felicidade. Seríamos milionários e moraríamos na mesma casa. Ou, quanto muito, na mesma cidade. Seríamos milionários e viajaríamos nas férias para o litoral. Santa Catarina. Nordeste no máximo. Seríamos milionários, mas seríamos nós e não pode haver desgraça maior do que esta. De que vale tanta mudança, se não nos mudarmos para Bali para criar carneiros? De que vale tanto dinheiro, se não abrirmos um estúdio de tattoos na Califórnia? De que adianta sermos milionários se não perdermos tudo na bolsa, investindo em ações de uma fábrica de camarões sintéticos, somente para pularmos de um prédio de Shangai depois?

De que valeria mudar tudo, se nós ainda fôssemos os mesmos? 


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