
Ah, com que orgulho ela mostraria a todo mundo aquela felicidade micha, amarelecida pelo desuso. Ela correria nas ruas, como se fosse uma criança, e não a velha que era, e exibiria a quem quisesse ver: “Você ganhou uma bicicleta? Grande coisa, eu ganhei uma felicidade, olha. E é só minha, de mais ninguém no mundo!”
Quando chegasse a noite, ela dormiria exangue, agarrada com unhas sujas à felicidade puída. E, no raiar do sol, se amanhecesse viva, é claro, veria com olhos novos a felicidade velha. Veria com outras cores e ainda com mais alegria o presente do Pai Noel. Porque também com as crianças é assim: na manhã seguinte tudo brilha ainda mais intensamente. Acho que é medo da felicidade só ter existido em sonho.
Fato é que, ao invés da felicidade, deram à velha um par de meias de lã. Ela sorriu agradecida, embora acabrunhada. É que era verão... e ela tinha tão pouco tempo. Qualquer coisa que ganhasse, não viria a usar. Por que não lhe deram a felicidade? Mesmo que curta, pequena ou feia, dessa ela faria bom uso. Mas eles não entendiam... Queriam aquecer pelos pés o gelo que lhe faziam no peito. Deram-lhe as meias, foram-se embora do asilo, para a ceia-natalina-em-família. Como em família, se a vó ficava ali? De meias na mão e nenhuma felicidade no bolso?
Humpf!
ResponderExcluirEla merecia um final feliz.
Final este que eu não consegui dar.
Finais felizes não são tão fáceis de ter ou se dar. Eu gostei do conto mesmo com o final triste. :)
ResponderExcluirDizem que felicidade pode ser a ausência da tristeza também. Pena não ter acontecido isso com a senhora do texto.