sexta-feira, 22 de junho de 2012

"If I could be who you wanted all the time"


Naquela noite cada um dormiria com sua própria covardia. E já era quase noite quando as mãos se separaram. Centrímetro por centímetro, como se os dedos lambessem uns aos outros, conformados com uma perda que não queriam.

Ele andou pelas ruas sem reconhecer ninguém. Olhos marejados. Querendo refazer o passado. Ou querendo, quem sabe, se desfazer.

Foi embora pensando em quando se veriam novamente e no que caberia ainda dizer.

Era quase escuro e terrivelmente frio quando ele andou sentindo em cada passo as pedras chacoalharem no peito. O pior de tudo, ele pensava, era que tinha valido a pena. Cada fotografia que agora seria rasgada. Cada cartão que seria queimado. Cada mensagem a ser deletada do seu celular.

O pior era seguir em frente podendo ainda amar. Sorrir para outros rostos enquanto ainda havia mel no peito, entre as pedras de agora. Sim, o que mais machucava era mesmo o desperdício. Jogaria seu amor fora, gota a gota, enquanto tanta gente de amor precisava. 

Era com essa dor que ele dobrava cada esquina. Aconchegava o cachecol mais próximo ao pescoço, passava a mão pela aspereza das paredes. Tentava abaixar a cabeça e pensar em qualquer outra coisa para que as lágrimas não caíssem.

Não conseguia.

Se ele ao menos soubesse que aquele beijo seria o último, teria feito com que durasse mais. Teria apertado mais o abraço. Teria inspirado mais forte aquele perfume que agora soaria, para sempre, como uma nota triste.

Ilusão.

Tudo terminaria do mesmo jeito. Tudo terminaria com aquele amor no peito azendando porque ninguém o queria. Tudo acabaria seco e solitário como era aquele entardecer de inverno. Como seria aquela noite, a mais longa do ano. Como seria tudo a partir dali.

3 comentários:

  1. Vou ter que desenhar meu comentário:

    Li com muita sede cada linha e no final uma saliva dolorida desceu rasgando minha traquéia.

    Rasgou. Apaguei. Preciso seguir assim.

    (continuo amando seus escritos).
    Si

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  2. Esse é pra doer, e pra doer de verdade. Me doeu um tanto.
    Adorei! ^^

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  3. Árvores falsas de plástico.
    Os sentimentos falsos de plástico.

    Será que apenas fabricamos os sentires? Em algum ponto somos todos apenas imaginação.

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