sexta-feira, 25 de março de 2016

Imploração

Eu sempre fui feito de sonhos. Muitos e mudos. Aos poucos descubro, porém, que eles são tão soltos que de nada adiantam. 

Não adiantariam nem mesmo se eu soubesse para quem pedir suas realizações.

Pedir é uma arte. A única que eu não conheço. 

Até meus quereres mais simples, meus desejos de poço, minhas implorações por sossego, por exemplo, só sossego, de poucos dias, meu Deus, sossego, até eles me são negados.

Nada do que eu quero me é dado. E deve ser porque eu não sei como e nem a quem pedir. Porque se eu falo, se eu rezo, se eu digo qualquer coisa, eu o devo fazer em uma língua morta. Junto com minhas preces, está sempre entrelaçado um feitiço de esquecimento. No momento em que eu digo algo, já nada se disse. 

E a cada prece esquecida, a cada sonho despejado com a água do banho, a cada dia em que nem o mais simples me é dado, eu me torno mais frio, mais distante, mais brutalmente feito de rotina e raiva. Até que só elas restem, justo elas, no meu coração que já foi todo feito de sonhos.



2 comentários:

  1. Já pensei em teste, karma, trocas por promessas, equilíbrio universal. Mas no final das contas a vida tem só esse jeito de ser tão desacreditável alguns dias e insistir na esperança no outro.

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  2. Quase sempre tenho a impressão que meus desejos são como você bem colocou "desejos de poço" e que não existe um "algo/alguém" que entenda ou conceda nada do que realmente me falta... Prosseguir é o único modo.
    Abraço amigo.

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