quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Há temporais, por fora e por dentro

Hoje, quando o temporal chegou, eu cuidei bem. Primeiro tudo ficou quieto, como que à espera. Tudo parou, de repente. Depois é que vieram as nuvens, escurecendo a cidade, acendendo os postes de luz, espantando cachorros e gatos da rua.

Depois veio o vento, fechando janelas, batendo portas, varrendo as folhas da calçada. Só depois veio a chuva, forte, vigorosa, lavando tudo.

Hoje eu cuidei bem. Cuidei porque em mim também se faz temporal. Também se acenderam  as luzes, também se varreram as folhas, se bateram as portas. Eu estou em pleno temporal. Por dentro. 

Eu cuidei como foi. Cuidei porque é preciso pará-lo em algum momento. O temporal em mim, quero dizer. É preciso colocar tudo em nova ordem, terminar. Com as nuvens, com o vento, com a chuva. É preciso fazer tudo ficar bom de novo. Fazer calmaria brotar de algum lugar.

Eu cuidei, mas me fascinei tanto pelo barulho da chuva que adormeci. Não vi como ela parou. Não aprendi, ainda, como se faz para o temporal terminar. Talvez porque, no fundo, eu sei que nada depois dele vai permanecer como era. Será preciso reconstruir tudo. E já não sei, se em mim, há disposição para tanto. Não sei.


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