quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Do céu

A folha branca me deprime. Faz lembrar, talvez, de um tempo em que ainda havia o que ser dito. E é por isso que eu digo, a dor faz o poeta. Eu queria poder voltar e negar um pouco do que aconteceu, trazer de volta alguns quadros que deixaram manchas na parede, depois que sumiram. Eu entro em becos buscando algo que eu perdi. Todos buscam, é verdade, mas ao menos os outros sabem o quê. A natureza humana me é cada vez mais distante, porque em minhas fases viro a noite e desperto fera. Desejando que tudo mude, que tudo seque e morra de uma vez. Eu decifrei o segredo da esfinge, mas não a queria morta dentro de mim. Há uma música que é triste e toca lá fora. Na certa ela encontrou o velho piano no meio da floresta. Havia lá perto uma catedral que eu nunca mais encontrei depois de demolida minha infância. Me sinto como se tivesse apanhado e como se tivesse batido. Num auto-espancamento que deixa marcas de flores mortas. Não queria mais me sentir assim. Alguém abra a porta, por favor, eu quero sair...

2 comentários:

  1. Algo que nos complete... como um enorme quebra-cabeça, que só falta uma peça. Eis a vida...

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  2. Me arrepio toda vez que leio um texto teu no qual me vejo também...!
    Acho que a única diferença seria o fato de que a esfinge ainda me "ameaça"...!
    aff!

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