quarta-feira, 20 de julho de 2011

Do Aquário

Chove. E por trás da janela, entre cortinas de renda, eu pareço um peixe monocromático a espiar na rua a cascata. A água que desce pelas pedras tem a cor vermelha do barro das estradas que sobem. Estas águas lavaram a terra da frente das casas, lavaram as pedras na beira das gramas, lavaram a alma de quem ia só.

E lavam as roupas de quem passa por aqui, sem qualquer guarda-chuva. Esse alguém que passa e me vê menino à janela, peixe dentro do aquário. O olhar não se detém, passa apressado, molhado, magoado pela água gelada.

E eu todo peixe olho, seco, confortável, apreciando o dia que escurece cedo, xícara de café nas mãos, poesias nascendo do peito, alívio de se estender na cama. Tudo bom e perfeito, como deve ser por dentro do aquário.

No mais, algas de plástico, pedrinhas coloridas e falso baú de tesouro.

2 comentários:

  1. Em um desses dois lados, a vida não faz sentido.

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  2. Senti tanta coisa ao ler teu texto, tão cheio de poesia e sentimento... Mas ultimamente nem comentários consigo escrever. Então: é lindo. E só.

    Um abraço.

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