segunda-feira, 15 de junho de 2009

A Morte

Algumas pessoas esquecem da morte. Mas ela não é mulher que goste de ser esquecida. Quando já quase acreditam que ela não existe, ela manda flores, preferencialmente detestáveis crisântemos amarelos.
Deus que me proteja da morte e sua foice.
Qualquer dia eu morro, bem o sei, e quero tudo diferente. Meu corpo não ficará exposto. Eu não quero velório. Não quero deitar na caixa de madeira com toda essa gente em volta de mim, até as pessoas de quem eu não gosto. Não quero ouvir entre sussurros “Como ele está natural” ou “Que cor feia ele tem”.
Não quero ninguém debruçado sobre mim, não quero que passem as mãos nas minhas defuntas mãos, não quero beijos na testa, nem carícias na face. E tirem já as mãos dos meus cabelos! Nem em vida eu me deixava acariciar. Não quero missa com dizeres insinceros, nem enterro com vela de cemitério.
Não quero ser deitado sozinho em um buraco de cimento. Não quero deteriorar lentamente.
Quero ser queimado, com corpo ainda quente. Quero virar cinza e voltar ao pó.
Depois, que esperem um entardecer de tempestade. Um pôr-do-sol encoberto por nuvens de chumbo, um silêncio súbito, folhas aladas, pássaros fúlgidos. Esperem os trovões e raios, antes da chuva chegar, me lancem no vento. Porque foi o vento que eu prometi amar.
Que o vento me leve, que a chuva me lave.
Aos meus, digam depois, que me tornei um eterno morador das tempestades.

2 comentários:

  1. Ai! Que interesante, tbm penso um fim de vida assim...Fim de verdade não com choros e caixões, simplesmente fim... não estarei mais nesta terra e ainda assim serei dela. Que me torne o vento então, vento de viração. Bjos Liz

    ResponderExcluir
  2. Para cada morte, um piquenique, de encher o mundo quadriculando e com algumas bolinhas.

    ResponderExcluir

Obrigado pelo seu comentário.