terça-feira, 4 de agosto de 2009

Indelicadezas

“Vassoura atrás da porta espanta visita indesejada”

Ela ligou dizendo que viria, mas eu não a convidei. Nem você. Eu achei uma extrema falta de delicadeza. Quis inventar qualquer desculpa, mas não tive tempo, nem idéia.
Só por isso ela veio, estragando a noite, mofando as horas e arrebentando nas mãos os nossos minutos. Ela sentou no nosso sofá e até falou como se quiséssemos ouvir. Riu como se a quiséssemos ali. Comeu como se fizéssemos questão.
Nos dois nos olhávamos, tristes pela terça que se ia entre os ponteiros. Tínhamos planos, palmos e palmos de planos que agora escorriam pelos gumes da tesoura. Nada especial, ler um livro, assistir ao jornal... Tínhamos o direito de sermos sem a sua presença!
Não, não tínhamos.
Tocá-la para fora seria no mínimo indelicado, de modo que bocejei para expressar o tardar da hora. Ela fingiu não ver. Era sempre assim, perdida nos meandros do tempo ela ia ficando mais e mais da nossa vida ia morrendo aos seus olhares.


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