Mariana olhou para a rua e sorriu entristecida. Então ninguém? Ninguém. A rua de meio dia estava vazia, nem um cachorro sequer. Logo nessa hora, que passam tantos homens para ir trabalhar... Ninguém? Ninguém.
Pensou em botar as sapatilhas, sacar de um guarda-chuva e sair sem rumo certo, em busca de alguém. A preguiça, no entanto, superava a vontade só pensada. Mariana era fraca, mas só de vez em quando. Hoje ela precisava mesmo era de uma paixão. Qualquer paixão. É que só ser triste às vezes não basta, é preciso uma dor mais funda, uma pungência mais urgente, uma lágrima trancada à força no olho.
Mariana é triste sem motivos para chorar, então a menina não tem uma tristeza completa. Por isso procura uma paixão qualquer. Pode ser por um operário de obra, um mecânico de ocasião, um militar. O primeiro que passar. Ela então se convence de que ama aquele corpo, aqueles olhos, aquela boca e que precisa urgentemente que ele seja seu.
Ele, obviamente, não será. Ainda assim, ela vai esperá-lo, sempre no mesmo horário, só para vê-lo passar. E vai armar mil tramas para conversar com ele, para tocá-lo, para entregar o número de seu telefone... Mas não fará coisa alguma. Quando ele olhar, ela desvia o olho, inclusive.
De que serve, então, essa paixão, Mariana? Serve para doer. Para ser a dolorosa glória dos que sofrem por amor, dos que fervem por ferver. Porque não há angústia maior do que não ser retribuída em um amor tão vil.
Mariana vai pensar e vai penar e vai sofrer por aquele homem de quem nem saberá o nome. E será feliz com aquela dor só dela, aquela secreta e abismate tristeza da paixão. Agora fiquemos quietos, aí vem ele.
Aqui, falas de mim: "é triste sem motivos para chorar, então a menina não tem uma tristeza completa."
ResponderExcluirTexto perfeito!
As vezes realmente precisamos de uma dor assim.
=*
Tadinha. Mas eu a entendo. Também queria uma paixão neste momento, o amor é um ótimo muso inspirador!
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