sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Cratera

Na entrada há uma placa “Bem-vindo à Cratera”. E, de fato, passado o trevo se desce ao buraco. Quem passa por aqui é enganado, facilmente. Temos flores nos jardins. Uma colega de Luz Alta me disse isto uma vez: “Que cidade adorável, tão bonita e aparentemente hospitaleira.”

O acerto da frase? “aparentemente”. Nós, craterenses, vivemos de aparências. Por dentro somos ocos, mas plantamos flores e isso nos redime de vez em quando. Ocos, vazios, ovos pintados ainda sem o recheio de amendoins. O importante é o colorido de papel crepom.

Para cada acerto há um motivo, talento não. Quem enriquece, por exemplo, é traficante de drogas. Mulher solteira que se veste bem é bancada por homem rico. Quem consegue emprego é parente do empregador. Ou amante. Ou parente & amante.

Os pássaros cantam tanto em Cratera... Mas por baixo dos trinados há um sussurro ininterrupto. Tão acolhedora a cidade... pra quem vem de fora. Pra quem não está, permanentemente, à mercê dos ovos ocos.

2 comentários:

  1. PS: O trocadilho com "cratera" infelizmente não tem o crédito meu. Foi genialidade da minha (quase) irmã.

    http://lidita.zip.net

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  2. Devo ser uma forasteira de quinta mesmo, pois não fui acolhida pela cratera. Tropecei nela sem querer, quebrei uma perna e fiquei anos lá imobilizada.

    Genial como sempre.

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