quarta-feira, 30 de maio de 2012

Retratos

Minha vó e meu vô. Olhos claros no retrato da parede. Olhos que ainda veriam crescer dois filhos e um neto adotado. Olhos que veriam o passado voltar e invadir a casa. Olhos que veriam brindes e fogos e sonhos e desgraças e fotos...

Olhos claros pintados, quase vivos. Olhos que se eternizaram em uma juventude de soldado e de moça quase alemã.

Hoje os olhos de minha avó não abrem, apenas tremeluzem em uma cama de hospital, tal qual lâmpada que no instante seguinte pode queimar. Hoje os olhos do meu avô são líquidos. Ainda mais claros do que no retrato, eles quase transbordam das lágrimas mudas que ele tenta bem fracamente disfarçar.

E meus olhos, vendo tudo isso, desbotam. E carregam entre eles uma tristeza já sem tamanho. Que não caberia, sequer, em retrato.

2 comentários:

  1. Sempre leio seus textos, mas nunca consigo comentá-los. Deve ser porque eles já dizem tudo o que precisa ser dito.

    Seus textos nos fazem pensar. E calar.

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  2. lindo,meu anjo maldito. Só isso:lindo.

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