quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Reinventando

[...] a vida, senhores, é uma invenção 
da palavra  e não o contrário.
Nilza Rezende


Às vezes é preciso trocar de palavras. De adjetivos sobretudo. Eu, por exemplo, gostava muito do adjetivo "delicado". O gesto pequeno e manso, de dimensão estreita e sensibilidade aguda. Se eu precisasse concretizar a palavra "delicado", eu o faria na forma de um remoinho que, em pleno outono, gira folhas e agrada crianças.


"Delicado" foi um mote meu por muito tempo, só que não me cabe mais. Não. O corpo cresceu, tomou forma, ultrapassou os limites todos e ameaçou partir meu adjetivo em dois. Eu ainda tentei. Tentei usá-lo sem que me coubesse, tentei esgaçar as mangas, desfazer a barra, abrir as costuras e colocar remendos. Não deu.

Não é que eu tenha aberto mão da delicadeza. Não, ela ainda me pertence. Mas sinto que preciso vestir outra palavra. Uma que se acomode ao meu novo mundo e à minha nova vida. Não tenho mais suporte para redemoinhos. Preciso de tornados, furacões, ventos fortes que assustam tanto quanto encantam.  Preciso já de exuberância!

Silêncio.

"Exuberante"

Testo na língua, na boca, no corpo. E cabe.

Percebo, então, que tentar me encaixar ao “delicado” era como vestir um troll de soldadinho. “Exuberante”. Um adjetivo novo que me compreende enfim. Que faz sentido e que eu posso representar sem medo. 

“Exuberante”, uma palavra para eu despir das aspas e ser, para eu costurar no corpo e me dar, com ela, a medida exata. Uma palavra para transformar em mantra, para justificar a desculpar, para preencher e definir.

Sim, um adjetivo novo, exuberante. Porque somos, afinal, as palavras que escolhemos ser.

3 comentários:

  1. Sublime!!! Exato!
    Vou procurar minha palavra também!

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  2. Pois é. Muitas vezes, ao encontrar a nossa palavra, encontramos também o sentido de nossas vidas. Boa reflexão!

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