sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Sentir

Às vezes o que se sente não cabe na prosa, escapa dos pontos e linhas, é poesia líquida. Às vezes o que se sente não cabe na fala, cala. E não adianta sentar no balanço, enquanto a chuva não vem e a delicadeza é amarela. Não adianta pensar em rimas ricas e em todos os conceitos de Schiller.

Às vezes o que se sente não cabe no peito, se espalha, e eu então respeito. Deixo o sentir ser carne, pelos, pés. Pés ora no céu, ora no chão. Balanço na contramão.

Às vezes o que se sente não tem desculpa, portanto não tem, também, culpa. Às vezes o que se sente é libertação e liberdade não pede perdão.

Às vezes o que se sente vira sonho, lembrança. E é verde. Verde-esperança, a colocar tudo de ponta cabeça, a rebobinar céus e a cortar da fita os erros. Não, os erros não, a consciência do errado, a mordida no fruto, o início do pecado. O Éden todo refeito por nós.

Sim, às vezes o que se sente é poesia. Inútil botar em palavras, não cabe, vira folia. Não folia de quarto bagunçado e meia no chão. Folia de carnaval. Sentir de arlequim sorrindo, dançando consigo mesmo, sem máscara, bem no meio do salão.



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