E hoje, mexendo nas coisas da gaveta, encontrei dois poemas.
Um meu, outro de Clarissa. Somos poetas de gêneros distintos, ou talvez não. Falamos da mesma coisa, amor. O meu pleno, o seu platônico.
Ah, catatonias à parte, mergulhem aqui.
És Apolo, deus sol.
Tão imponente e majestoso
Quente e brilhante
Distante...
Astro rei.
Tão acima dos reles
Tão acima das reses.
Perfeição traçada em chama ardente
Como podem, tuas mãos de céu
Tocarem as minhas?
Cuja Imperfeição disfarço
com anéis de pesada prata
Como minha boca,
Opala opaca
acostumada a só falar de amor
pode fazê-lo no teu corpo?
Sou tão humano, meu deus, tão humano.
Talvez sejas para sempre
Minha escultura de mármore
Alvo
de minha devoção e desejo
Volúveis Volúpias.
Mal resolvidas à meia-noite
Meu deus, sou pura carne.
Meu contato te contagiaria
De tantas bestialidades humanas...
És traço perfeito
Sou coisa.
És deus sem defeito
Sou coisa.
Por isso mantenho distância.
Medo de quebrar-te
Medo de entregar-me
Medo de tornar-te
Coisa também.
Vôo de Farfalla
Farfalla inscrita ao corpo
Colorida, suave inébil.
Voa, por debaixo da pele
Sobe ao pescoço,
Sigo-a com os lábios.
Desce aos seios,
Sigo-a com a boca.
Pousa às coxas,
Sugo-a com a língua.
Asas de tons irreais
Sortilégios pousados à meia lua.
Flores que enfeitam tua nudez
Farfalla nunca te põe nua.
Ainda que todo resto sejas carne
Em partes és asas de farfalla
Valsa de farfalhares
És tela, minha pintura.
És minha e nua
há música, sinfonia de arrepios.
Quando toco tua farfalla
E já ela se perde ao longe
Voa, brinca
Pousa, voa.
Por corpo todo
Em minha mente.
Impossível
Não te amar
Farfalhosamente.
como compreendo o que você diz...
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