quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Noites que passaram, noites que virão

“Esse meu rosto vermelho, molhado, é só dos olhos pra fora
Todo mundo sabe, que homem não chora”

O que eu senti ontem ainda não tem nome. Doeu, mas doeu tanto que parecia haver uma ave de asas pequenas se debatendo bem no meio do meu peito. E eu fiquei tão pequeno no escuro do quarto, como quando era criança e me colocavam de castigo. Fiz força pra não chorar, espremi algumas lágrimas no canto silencioso do olho direito. A vontade era de cair em prantos ruidosos, beirando à loucura. A vontade era de soluçar alto e perguntar o porquê de tudo isso. Mas todo mundo sabe, que homem não chora.
Deus é bom, ao menos quando nos faz fechar os olhos e adormecer de cansaço. Ficar acordado, pensando mais, teria me congelado a alma, talvez para sempre.
Eu me senti sozinho e havia uma tempestade no mar em volta. Meu porto, meu único porto, aquele que sempre desejo por entre a tormenta, estava agora tão difícil de encontrar. A caixa de Pandora se abriu e não havia dentro dela a esperança, minha fada risonha com ares de borboleta. Só libélulas negras com missão de devastar.
Senti vontade de sair. Ficar sozinho no escuro da noite, mas pela primeira vez em mais de dois anos eu não sabia pra onde ir. Porque sempre que tudo é mau é para você que vou, como naquela música:

When you're blue, when you're down
When the world makes you drown
Come to me, come to me
And together we'll run away
When the wind is blowing hard
And you don't know where to hang on
Hang on to me, hang on to me
And together we'll drift away
Away, away

Você não gosta dela, do ritmo dela. Mas a letra é tão linda que sempre me faz pensar em você. Na verdade todas as músicas me lembram você. De repente estou ali, tão cercado, tão acuado, tão sem chão. Hoje, longe, eu choro, escondido no banheiro. Quem vai secar minhas lágrimas? Ninguém. Depois de tanto tempo feliz, hoje eu só quero sangrar.
É difícil dizer o que mudou. O seu abraço ainda é meu conforto, sua pele ainda é meu bálsamo, seu beijo ainda me faz esquecer das desgraças do mundo. Talvez seus olhos, não consigo olhar seus olhos. Adivinho que eles estão tão tristes quanto os meus. Sei que sou culpado. Culpado por me sufocar nos dias, por deixar morrer em mim todo prazer de escrever.
Contos, histórias, sim, tenho escrito tudo isso. Mas meus sentimentos, há muito tempo são expressos por páginas em branco. Faltam as palavras, não existem adjetivos que se encaixem no estresse da vida.
Porém eu te amo, com um amor tranqüilo que me faz tão bem. Olhem os poemas de amor, dizia minha professora, todos eles são de amores não correspondidos. É mais fácil ao poeta expressar a dor. Hoje, eu que o diga.
Eu achei que estava tudo no lugar, todas as coisas na ordem tranqüila de um lago sereno. Abro os olhos, perdido no mar, não tenho pra quem ir. Tempestades, redemoinhos e eu só queria te fazer feliz. Eu te amo sem escrever, eu te amo de amar. Mas como dizem: “Não basta a Rainha ser honesta. É preciso parecer honesta”. Talvez ao poeta ocorra o mesmo, não basta amar, é preciso cantar o amor em prosa e verso.
E logo quando eu disse "Amo tu. Não via a hora de poder chegar aqui, deitar abraçado contigo". Sua resposta foi um golpe tão grande, foi nesse momento que doeu tanto... Eu compreendi aquele homem que disse no filme "O melhor presente é nunca ter nascido". Não chore se ler isso. Eu já disse que me odeio quando te faço chorar. Eu preciso colocar pra fora tudo que ainda machuca.
Assim como falei ontem, eu ainda não sei o que dizer. Há impotência diante da vida. Diante dos atos.
Queria encontrar você, no meio do dia, com flores nos braços. Correr, dar um abraço. Queria jurar que tudo passou, que a chuva parou. No entanto, isso é tão típico dos hipócritas que devem. A mesma cena deve repetir-se em diversos canais da vida urbana. Todos os dias, maridos infiéis a pedir perdão.
Nunca te trai, nunca abracei ninguém como abraço você, nunca beijei outra boca, nunca amei de verdade, como amo você. Eu já disse tudo isso antes. Não quero as flores, não quero perdas e não quero perdões.
Se eu vou voltar esta noite? Nem sei se tenho para onde voltar. Ontem me senti um estranho deitado na sua cama. Tive vontade de pedir se eu podia dormir ali. Não sei. Talvez você não quisesse. Todas as coisas que disse ainda ecoam aqui, sem que eu saiba se são suposições sobre os meus sentimentos ou expressões dos seus. Eu amo dormir contigo, fico mais à vontade no teu quarto que no meu. Mas quem me convidou para dormir toda noite ali? Fui indo e ficando. Talvez tenha invadido seu espaço, talvez eu já não tenha a mesma graça. É, eu sou mesmo meio monótono e cansativo... Se for isso eu prometo que entendo.
Se vou voltar esta noite? Eu tenho medo até de ir pra minha casa. Sei que é possível que ao ver minha mãe eu precise dela para abraçar, para chorar. Chego a desejar sua mão de unhas compridas passando no meu cabelo. Há quanto tempo eu não tenho sido um bom filho? Queria o colo dela, mas ao mesmo tempo não quero todas as perguntas que ela vai fazer, não quero dizer o que aconteceu, não quero ela com pena de mim, não quero ela ligando pra você, tentando outra vez consertar tudo. Eu só queria chorar quieto. Trabalho com as letras embaralhadas nos relatórios, números que borram, mas agradeço aos que estão em volta por fingirem não perceber meus olhos vermelhos e meu rosto molhado. Eu preciso ser bem mais forte que eu. Imagino que você não deva estar muito diferente e é isso que mais dói.
Se eu vou voltar esta noite? Há uma vontade tão grande de ficar na outra cidade, tão fria, perdido. Porque ontem eu esperei você me xingar, dizer que eu tinha pouca roupa. E eu iria mentir que estava com calor, apesar do frio que passei, mas você não falou nada. Até então não importava. Você não notou, mas deixou a cama quente pra mim. E te abraçar foi a melhor hora do dia, até eu dizer que te amava e você responder tanta coisa diferente. Eu queria ter a coragem de fugir, por uma noite e um dia, que fosse. No entanto, não quero ver você culpada, não quero deixar meus pais preocupados, não posso faltar ao trabalho. Sou um bom menino, quase sempre. Sou responsável, melhor seria se eu fosse inconseqüente. Porque eu preciso de uma noite sozinho, vagando na rua. Preciso me impregnar de autocomiseração. Ser vítima longe do mundo, ser fraco longe da tua cama. Poder chorar, só por chorar, poder me castigar com uma insônia forçada, poder me cortar nas frestas do vento. Quero me perder em outros caminhos, desesperar sem encontrar testemunhas. E depois?
Depois seria voltar, dar tantas explicações, forçar uma redenção através da preocupação com aquele que fugiu de si mesmo. Não suporto a idéia.
Ah, mas chega de choro. Por favor, não me ligue tendo pena de mim. Não chore comigo, também não finja que nada mudou. Só acredite, pelo menos uma vez, quando digo que te amo.
Se eu vou voltar esta noite? Por Deus, eu não sei o que fazer esta noite.

“Quem sabe eu volte cedo, ou não volte mais”

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