quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Me dê motivo

Me dêem motivos para ficar, porque os para ir embora eu mesmo invento. Nem as flores se dão de graça. O sol precisa aquecê-las, a água precisa molhá-las. Então porque eu, logo eu, que nem sei repartir, preciso me doar inteiro por puro e grato prazer? Não. Eu quero mais, eu quero motivos.

Eu não estou aqui para atravessar os dias, para respirar da vida, para secar ao sol. Eu estou aqui porque. Por quê? Não, não entendam mal como sempre fazem. Eu não estou querendo ir. Pelo contrário, quero desesperadamente ficar aqui. Mas como posso ficar se começo a sentir que lá fora é que se vive? Como posso ficar se no lugar de sol minhas folhas estendem-se na escuridão? Como posso ficar se ao invés de chuva, minhas raízes chafurdam nas grotas da terra seca?

Motivos. Vamos, me dêem motivos! Digam bem alto porque vocês me merecem. Porque eu não vejo vocês fazendo nada para que eu fique. Não vejo em quê tentam melhorar para mim. Não vejo olhos gratos por eu estar por perto.

Motivos! Eu quero motivos que me impeçam de fugir solene durante a noite. Razões para permanecer afundado onde estou. De graça, nem as flores! Me mostrem agora as vantagens de ficar, porque senão eu vou. Vou de vagar, vou sorrateiro, cabeça baixa e pés descalços...

Provem. Provem por pelo menos um dia que ainda me querem. Provem que não estou aqui por comodismo, estou por opção. Me convençam disso, porque eu preciso desesperadamente ficar. Mas sem motivos... está ficando impossível.

Um comentário:

  1. Curioso que motivos são pedidos para ficar, mas o ato de ficar parece mais denso do que a partida.

    Tomei também a liberdade de te linkar, rs. :)

    Até a próxima!

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