
Tamborila as unhas na mesa de madeira, apreciando o barulho seco. Raspa o tampo, chiando firme, sentido mais as reverberações do que os toques. Nos plásticos finos ele deixa marcas, descascando os livros. Risca a perna e vê uma linha branca se firmar na carne. A pele arde e ele sopra.
Na máquina de escrever, as garras tamborilam doloridas, porque é preciso muita força para elevar o pino de letra, gravando a fita forte no papel desvirginado. Quase se descolam, desprendem, e ele força mais, em êxtase puríssimo esperando quebrá-las uma a uma. Aguardando a vertigem do sangue, os redemoinhos que sempre dão os pingos rubros na água da pia.
Imagina, então, as torturas chinesas. As unhas sendo arrancadas, por alicates, um gozo. Porque ele quer ser agredido, de qualquer forma. Acorda no meio da noite querendo dor, lunático que é. Amanhece torcendo por um desastre, qualquer um, que o jogue na confortável posição de vítima. Porque ele quer um mundo algoz, quer ser mártir, penitente, quer é escorrer em sangue quente.
Engraçado, pensa de repente, como as unhas dos mindinhos crescem mais depressa. Lembra então do asco que sente pelos homens de unhas longas, especialmente as do mindinho. Ele sabe, usam para coçar o ouvido. Unhas pretas de cera podre. Homens felizes, não sabem o quanto são miseráveis. Ele sabe. E corta as unhas, então.
Antes os ferimentos fossem de meras garras. Mas que há de se fazer, quando as suas lâminas estão sob o palato?
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