segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Lame Love

O primeiro clique pegou teu rosto. O segundo teu corpo. O terceiro teu umbigo. No meu quarto, tuas calças no chão. Outro drinque, por favor.

Qualquer música toca tudo com uma batida que diz "Have I lost my soul, Have I lost myself. I used to be such a romantic, I used to be a good girl". Canto junto, mexendo os lábios com lentidão, passando os dedos pelo teu peito. Tu me perguntas do que fala a música. De amor. Minto.

Sempre menti que era de amor.

Tu fumas outro cigarro. E eu não gosto que fumem aqui. Já não importa. É só mais um pouco de ti que ficará impregnado nas minhas cobertas, nas minhas cortinas e no meu cabelo. Só. Quando tu fores embora. Vais ir logo, por falar nisso? Tenho mais o que fazer.

Revelar as fotos, terminar minha música, editar o vídeo que estou devendo desde setembro. Bebo mais alguma coisa. Gole fundo. Sufoco. Mas pelo menos o gelo faz escorregar teu gosto pra mais fundo de mim. Para lá onde não incomoda mais a aspereza das tuas mãos, por exemplo.

A música acaba e a coloco de novo. Tu me perguntas se gosto. Não. Minto. Minha pele está suada. Eu queria um banho. E tanto por fazer. Vocês poderiam pelo menos ter a gentileza de ir embora depois? E eu que já odeio as novelas românticas.

As mãos no teu corpo, enfeitiçando. Não para tê-lo mais. Para que te vás, de uma vez. Como os cachorros e os corvos que já se recolhem lá fora. Anoitece, meu Deus, custa me devolver a solidão?

Mas a tua [solidão] é maior que a minha. E gulosa. Pensas que cada carinho já é saudade. Não é. É nojo. De mim. Por me ter tanto nojo é que me entrego a ti. Não é amor, meu bem, é castigo. É autoflagelo.

Finalmente tu pareces lembrar que existe outra vida, longe da minha. Ergue as calças do chão. Pergunta, distraidamente, sobre os cliques. Respondo que devem ter ficado alguns bons. Minto. De novo. É hábito.

É hálito. Colocas de novo tua boca suja na minha. Sinto gosto de cinzas. Mas faz parte da redenção. Mas faz parte do meu castigo por algum dia eu ter acreditado.

Em outro tipo de amor.

2 comentários:

  1. Na falta de outra verdade sobra construir uma, mesmo cheia de mentiras, algo mais fácil para se acreditar.

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  2. Ou, quando mentira é o que sobra, resta dizer uma verdade. Uma na qual ninguém acreditaria.

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