Nesta cidade fictícia, são estranhas as coisas que acontecem, especialmente nos dias ou noites de chuva.
— Alô.
— Oi.
— Nossa, que horas são, heim?
— Desculpe. Acho que umas três da madrugada, meu ônibus deve estar quase chegando.
— Ônibus?
— É. Eu estou indo para Porto Alegre. Não posso mais ficar aqui.
— Como é que é?
— Eu só liguei para me despedir.
— Onde você está?
— Na rodoviária.
— Você está indo fazer o que em Porto Alegre?
— Nada especial, só estou fugindo de você.
— Como?
— Nada.
— Cara, você está bem?
— Não. Sabe, eu ia simplesmente ir embora, mas daí eu pensei em ligar.
— Mas você vai ir embora por quê?
— Porque não quero mais te ver.
— Eu não estou entendendo onde você quer chegar. O que foi que eu fiz?
— Nada. Quem fez fui eu...
— O quê?
— Eu te amo.
— Ama?
— É, e não te amo como amigo, como irmão, ou seja lá como for...
— Puxa, eu nem sei o que dizer...
— Não diz nada. Eu nem deveria ter ligado.
— Nossa, é que você me pegou meio de surpresa. Acho que nem acordei direito ainda...
— Olha, desculpa mais uma vez. Por ter te acordado e também por te amar.
— Não diz isso. Por que você não vem aqui para minha casa, para gente poder conversar melhor? Não está certo você ir embora assim...
— Não quero conversar melhor, eu já decidi o que fazer e foi difícil o bastante. Nem todos os amores vingam, né? Além disso, meu ônibus já deve estar chegando.
— Hei, quer saber de uma coisa. Eu também não queria conversar. Só deixa eu ir aí te pegar e... fica comigo esta noite.
— O quê? Desculpa, o que você falou? Eu não ouvi direito, o ônibus chegou.
— Nada... Só te desejei uma boa viagem.
PS: Eu sei. Não precisava das duas últimas falas. Minha primeira idéia era de suspender o texto no convite para passar a noite. Um final abismático, que cada leitor buscasse, então, a sua resposta. Porém o texto se conduz. Ele, ao invés do vazio, optou por isso.
É uma crueldade, mas uma crueldade levemente adocicada.
— Alô.
— Oi.
— Nossa, que horas são, heim?
— Desculpe. Acho que umas três da madrugada, meu ônibus deve estar quase chegando.
— Ônibus?
— É. Eu estou indo para Porto Alegre. Não posso mais ficar aqui.
— Como é que é?
— Eu só liguei para me despedir.
— Onde você está?
— Na rodoviária.
— Você está indo fazer o que em Porto Alegre?
— Nada especial, só estou fugindo de você.
— Como?
— Nada.
— Cara, você está bem?
— Não. Sabe, eu ia simplesmente ir embora, mas daí eu pensei em ligar.
— Mas você vai ir embora por quê?
— Porque não quero mais te ver.
— Eu não estou entendendo onde você quer chegar. O que foi que eu fiz?
— Nada. Quem fez fui eu...
— O quê?
— Eu te amo.
— Ama?
— É, e não te amo como amigo, como irmão, ou seja lá como for...
— Puxa, eu nem sei o que dizer...
— Não diz nada. Eu nem deveria ter ligado.
— Nossa, é que você me pegou meio de surpresa. Acho que nem acordei direito ainda...
— Olha, desculpa mais uma vez. Por ter te acordado e também por te amar.
— Não diz isso. Por que você não vem aqui para minha casa, para gente poder conversar melhor? Não está certo você ir embora assim...
— Não quero conversar melhor, eu já decidi o que fazer e foi difícil o bastante. Nem todos os amores vingam, né? Além disso, meu ônibus já deve estar chegando.
— Hei, quer saber de uma coisa. Eu também não queria conversar. Só deixa eu ir aí te pegar e... fica comigo esta noite.
— O quê? Desculpa, o que você falou? Eu não ouvi direito, o ônibus chegou.
— Nada... Só te desejei uma boa viagem.
PS: Eu sei. Não precisava das duas últimas falas. Minha primeira idéia era de suspender o texto no convite para passar a noite. Um final abismático, que cada leitor buscasse, então, a sua resposta. Porém o texto se conduz. Ele, ao invés do vazio, optou por isso.
É uma crueldade, mas uma crueldade levemente adocicada.
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